Lições do Coronavírus, pensar local e de modo sustentável

Luiz Papillon

Aqui na cidade grande tudo está mais silencioso, calmo e com menor poluição. As pessoas nas grandes cidades voltam a enxergar estrelas, ouvir pássaros e isso é uma lição que não podemos deixar passar em branco.

O alerta vem da Holanda, onde um grupo de 170 cientistas veem a oportunidade de tornar a sociedade radicalmente mais sustentável. Especialmente sociólogos e ambientalistas indicam que o cidadão pôde experimentar uma diminuição no consumo de itens de luxo e desperdício. Assim lançaram um manifesto criticando os danos ecológicos pela cada vez maior circulação de bens e pessoas.

Sem uma mudança política e econômica, os ganhos obtidos com a redução de emissão especialmente de CO2 serão temporários. Assim as cidades tem uma grande oportunidade para tornar a economia e circulação de pessoas mais sustentável.

Home Office e compras menores

Com o uso amplo do Home Office em quarentena ou isolamento social, as empresas mesmo escritórios menores irão definitivamente migrar parte do dia a dia para casa. Esse fenômeno já vinha sendo adotado por grandes empresas que reduziram drasticamente as áreas ocupadas por seus escritórios. E com o funcionário em casa, a necessidade do uso do automóvel é reduzida. A Hewlett-Packard do Brasil reduziu nos últimos anos em 60% sua área de escritórios, com funcionários em sua sede apenas para reuniões e avaliações. Os mercados locais passaram a entregar compras, aceitar encomendas por aplicativos. Ou seja um novo tipo de economia. Mas esse é um site de ciclismo e você já deve imaginar o ponto que pretendo chegar.

A bicicleta como instrumento para uma economia sustentável

No princípio da crise do coronavírus, elenquei como algumas cidades utilizaram a bicicleta para desafogar o transporte público. Bogotá adotou então ciclo-faixas para acesso ao trabalho de modo radical, diminuindo faixas de automóveis e assim diminuindo o número de pessoas no transporte coletivo. Não foram poucos os exemplos de ciclistas profissionais ajudando por toda Europa a entregar mantimentos para pessoas em faixa etária de risco.

Aqui em São Paulo, a maior metrópole da América do Sul e com um trânsito hostil e lento, a câmara dos vereadores aprovou em 2016 uma lei de incentivo ao uso da bicicleta para ida ao trabalho, o Bike SP. Infelizmente desde então não foi regulamentado pela Prefeitura e segue em compasso de espera. O “pós coronavírus” é uma ótima oportunidade para colocar em prática programas como esse.

A própria ciclo-faixa de lazer que deixou de funcionar em 2019 e agora possui novo patrocinador, poderia ser estendida para dias úteis e ajudar a desafogar o trânsito da cidade.

Urbanismo tático e estratégias para devolver a cidade ao pedestre e ciclista

É evidente que toda boa intenção precisa vir acompanhada de medidas de contenção. Para devolver a cidade ao pedestre e ciclista, garantir menor nível de ruído nas ruas locais é preciso mais do que incentivos. É preciso cercear o tráfego de automóveis, restringir aos veículos que pertençam aquela região e direcionar o trânsito “de passagem” para grandes avenidas. Uma das táticas utilizadas para criar esse efeito é com adoção de ilhas de bloqueio:

Superquadra em Copenhague na Dinamarca

Além de medidas restritivas, a tática de induzir o motorista a reduzir a velocidade ou ceder mais espaço é conhecida como urbanismo tático. Onde com baixo investimento os contornos de vias são reduzidos especialmente junto a cruzamentos para abrandar a velocidade que os carros desenvolvem.

Urbanismo tático, antes e depois.
Comayagua, Honduras.

A pandemia é um ciclo, e precisamos não só compreender as lições que um tempo de exceção nos traz, mas também como tornar nossas cidades melhores para quem anda a pé, de bicicleta e também para quem precisa do automóvel. E você, precisa?

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