Durante essa semana o ciclismo brasileiro vivenciou a notícia do número recorde de atletas suspensos por doping em uma temporada. Muito se falou sobre o doping endêmico no ciclismo brasileiro e das consequências para o atleta, mas pouco sobre a consequência para o esporte.
Patrocinadores e o doping
Quando um ciclista é flagrado no doping, passa uma imagem negativa para a sociedade e isso causa a imediata desvalorização do ciclismo como produto. É ruim para a empresa que patrocina o atleta no nível pessoal, de equipe e também para empresas envolvidas no negócio do ciclismo. São organizadores de prova, patrocinadores de prova e também na eventual transmissão na TV.
Exemplo disso, foi quando da suspensão da então equipe Funvic Pró Continental que acarretou a perda do patrocínio do hipermercado Carrefour. Mais tarde em 2019 durante a última Shimano Fest presencial, pude conversar com o vice-presidente da Abraciclo para o setor de bicicletas, Cyro Gazola. Cyro então destacou que um dos motivos da Cannondale não patrocinar o ciclismo de estrada era o doping.
Assim a cada ciclista flagrado no antidoping, perdem todos ciclistas, equipes e organizadores do esporte. Por isso é importantíssima a compreensão e tolerância zero com o doping.
Doping endêmico
Nas redes sociais do Pelote Ciclismo pudemos notar muitos comentários com referência ao doping sistemático com frases como “todos se dopam”, “para vencer é preciso se dopar”. Essa percepção completamente enganada é outro ponto negativo e poucos atletas se atrevem a questionar. Em uma tremenda saia justa, visto que sua antiga companheira de equipe em 2021 estava entre os atletas suspensos e um de seus companheiros para 2022 também se encontra suspenso provisoriamente, a campeã brasileira Ana Paula Polegatch fez um importante desabafo:
https://web.facebook.com/anapaulapolegatch/videos/670305050649653
A realidade é que o ciclismo é um dos esportes mais controlado não só no Brasil mas no mundo. As competições oficiais recebem regularmente agentes de controle e fiscalização. Ao contrário do futebol onde a maioria dos testes são de urina (onde são observadas um número menor de substâncias), no ciclismo o exame de sangue (bem mais detalhado) é mais utilizado.
Escolhas de Carreira: O doping atrapalha a todos
Quando um ciclista em desenvolvimento está em uma equipe maculada pelo doping, sempre surge a suspeita do doping sistemático. Ou seja o receio de que ciclistas daquela equipe praticam o doping. Isso atrapalha a formação do atleta e a possível mudança para equipes ou categorias mais competitivas.
Ainda convivemos com muitos dirigentes em equipes e federações que competiram durante os “anos dourados” do doping, com quase todos optando pelo silêncio em relação aos atletas suspensos. E essa é uma das amarras que impedem o crescimento do ciclismo no Brasil.
A melhor arma contra o doping: Testar, suspender e banir
Após uma auditoria da WADA (Agência Mundial Anti-Doping) em 2016, a Autoridade Anti-Doping Brasileira a ABCD passou por uma reformulação e adotou protocolos rígidos. Comandada por Fernanda Bini a ABCD expandiu os controles e testagens, incluindo também crianças e adolescentes de categorias de base, além de amadores.
Atualmente a entidade faz palestras, conduz foruns e oferece um amplo sistema de suporte para o atleta ter conhecimento e acesso a informações sobre substâncias proibidas.
Doping amador, a corrupção da vitória
Para vencer é preciso treinar, treinar muito. Nenhum atleta vence somente pelo uso de substâncias proibidas. Lance Armstrong venceu sete vezes o Tour de France utilizando substâncias e métodos proibidos, contudo treinou miseravelmente e mostrou uma vontade de vencer que transcendeu o limite da honra. Como pena perdeu todos seus títulos e foi banido do esporte.
Se isso ocorre com um profissional que vive para o esporte, qual a motivação para o amador? Será a mesma que leva alguém a registrar um treino dentro de um veículo motorizado no Strava como se estivesse pedalando? Esporte passa pelo respeito às regras, leis e valores do esporte. Todo aquele que busca burlar isso para massagear o ego, não só é o primeiro perdedor mas também o primeiro não merecer destaque.
Concorda em parte. O atleta que usa drogas ilícitas precisa treinar menos. Menos volume de qualidade para. Chega aí bom resultado. Enquanto o atleta limpo precisa de mais volume de treino. Mais sono de qualidade, mais esforço.