O ciclismo anti-horário: Um retrato do ciclismo de Pista no Brasil

Luiz Papillon

A modalidade olímpica que mais medalhas distribui, ao todo são 36 medalhas em seis disciplinas nas categorias masculina e feminina. E o Brasil não classificou, ou melhor não tentou classificar nenhum ciclista nesta modalidade. Os ciclistas que mais lutaram por uma vaga na pista vieram do projeto da ABEC Rio Claro no interior de São Paulo.

Bicicleta Pinarello no Velódromo de Izu | Foto UCI
Bicicleta Pinarello no Velódromo de Izu | Foto UCI

Enquanto ciclistas do mundo todo, mesmo de nações pequenas como Trinidad & Tobago enviavam ciclistas para disputa de provas pelo mundo, além de organizar campeonatos locais, o gigante dormia. E mesmo possuindo um dos mais modernos velódromos do mundo o Brasil não o utilizou adequadamente. E não só o velódromo do Rio que é a joia da coroa, mas praticamente todos os outros velódromos são subutilizados.

Exemplo vem da Ginástica Brasileira e do Ciclismo Inglês

O sucesso de Rebecca Andrade na ginástica não é isolado. Para culminar na excelência esportiva de Rebecca, passaram centenas de crianças e atletas por programas de ginástica na seleção brasileira desde o início dos anos 2000. Foram 20 anos entre Luisa Parente e Rebecca Andrade, passando por Jade Barbosa e Diane dos Santos. Um projeto de longo prazo, assim como o Centro Nacional de Ciclismo no Reino Unido, inaugurado em 1994. Um complexo que inclui trilha de MTB, complexo de BMX e o Velódromo.

 

Vantagens do ciclismo de pista: Ambiente controlado em um esporte “Barato”

Em uma era onde é extremamente difícil “fechar vias” para disputa de provas de bicicleta, o velódromo é um porto seguro para crianças, jovens e adolescentes praticarem o esporte. A própria bicicleta de pista é a mais simples possível para a prática esportiva:

  • Sem freios
  • Sem câmbios
  • Sem marchas

Se você não está habituado deve ter pensado nesse momento: E como raios a bicicleta se move? Bom isso acontece pela relação fixa, ou seja o ciclista de pista não para de movimentar as pernas, ou a bicicleta para.

Ciclista faz aquecimento para os jogos olímpicos em Izu | Foto UCI
Ciclista faz aquecimento para os jogos olímpicos em Izu | Foto UCI

São duas rodas, quadro, garfo, guidão, canote, pedal, pedivela, corrente e catraca! Claro a bicicleta para disputa olímpica é aerodinâmica, construída em fibra de carbono, mas para crianças e adolescentes treinarem, bastam bicicletas de aço, super resistentes e que podem ser reaproveitadas. Pela falta de tradição praticamente inexistem bicicletas de pista prontas para venda, especialmente nas especificações mais baratas. O que obriga o iniciante a adaptar uma bicicleta de estrada.

O ciclismo anti-horário

Uma verdadeira pérola dos comentários esportivos durante os jogos olímpicos do Rio 2016 foi a prova “anti-horário”, um equívoco sem dúvidas da jornalista que tinha que entender e replicar uma informação sem o devido acompanhamento de um comentarista especializado. Relembre:

Mas até que ponto ela está errada? A prova que a jornalista queria descrever era a disputa contra o relógio ou contra o cronômetro, mas ela não estava completamente errada. Por força de regra as provas em velódromo são disputadas sempre no sentido contrário ao relógio, ou anti-horário, e provavelmente ao ler a descrição da prova, no calor da emoção a jornalista “trocou as bolas”. Agora você sabe o porquê das provas serem no sentido oposto ao do relógio? Existem algumas teorias, mas fico com a mais aceita que é o Movimento de leitura.

Como a maior parte da população lê da esquerda para direita, visualmente é mais natural acompanhar o movimento nesse sentido, e para tal é necessário que sejam percorridas contra o relógio. Fato que acontece também no automobilismo com os circuitos ovais sempre fazendo curva para esquerda. Essa prática de correr no sentido contrário ao do relógio remonta das corridas de bigas no Império Romano e é adotada também no atletismo.

Os velódromos no Brasil

Atualmente existem seis velódromos em atividade no Brasil:

Velódromo Olímpico do Rio de Janeiro
Pista 250m, piso pinus siberiano, coberto.
Ano de Construção: 2016

Velódromo de Caieiras, São Paulo
Pista 250m, concreto, ao ar livre.
Ano de Construção: 2003

Velódromo de Americana, São Paulo
Pista 333m, concreto, ao ar livre.
Inaugurado em 1996

Velódromo Municipal Joaraci Mariano De Barros em Indaiatuba, São Paulo
Pista 250m, concreto, ao ar livre.
Inaugurado em 2016

Crianças aprendem ciclismo em Americana - São Paulo | Foto ABEC Rio Claro
Crianças aprendem ciclismo em Americana – São Paulo | Foto ABEC Rio Claro

Velódromo de Maringá, Paraná
Pista 250m, concreto, ao ar livre.
Inaugurado em 2008

Velódromo do Parque Botânico de Curitiba, Paraná.
Pista 333m, concreto, ao ar livre.
Ano de Construção: 1979

Dois velódromos estão interditados, o Velódromo de Contagem, inaugurado em 1983 e o Velódromo da USP na Cidade de São Paulo, abandonado pela reitoria desde os anos 90. Além deles, está prometido para 2021 a inauguração do Velódromo de Pinhais no Paraná, com o material que sobrou do Velódromo do Pan de 2008 que foi desmontado no Rio.

Velódromo de Pinhais em Construçao
Velódromo de Pinhais em Construção | Foto Federação Paranaense de Ciclismo

O mundo bizarro: Manaus investiu 2,5 milhões em um Velódromo que nunca poderá ser utilizado oficialmente

Em Manaus a prefeitura construiu uma aberração que chamou de Velódromo mas não passa de uma estrutura bizarra, feita sem critério técnico e sem obedecer parâmetros oficiais, sendo apenas uma pista para brincadeiras, não podendo receber disputas oficiais. A passarela construída no meio da pista coloca em risco a segurança de ciclistas e visivelmente a inclinação da pista não é condizente com um mínimo de segurança. É uma obra na qual o MPF deveria trabalhar para recuperar o dinheiro investido.

Velódromo de Manaus | Foto Divulgação
Velódromo de Manaus | Foto Divulgação

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