O ciclismo chegou a São Paulo no finalzinho do século 19, trazido pela elite que se inspirava sobretudo nos franceses e ingleses. Na mesma época outros esportes atravessaram o oceano Atlântico como o Tênis e o “Jogo Inglês”, que virou o futebol.
Da provinciana São Paulo a Paris, o sonho de Antonio Prado
Mais velho desses esportes importados, o ciclismo era disputado desde 1868, quando o inglês James Moore venceu uma prova de 1200m em Paris. E a elite brasileira não poderia ficar para trás. Impulsionada pelos lucros do café, a elite buscou inspiração na Europa. E assim tentar fazer com que a provinciana São Paulo se elevasse a um centro cultural como Paris ou Viena.

Esse sonho começou a tornar-se realidade por meio de Antonio da Silva Prado, o Conselheiro Antonio Prado. Um politico abolicionista no império e primeiro prefeito da cidade de São Paulo herdeiro de grande fortuna. Antonio Prado encomendou a construção do Velódromo Paulista em uma parte da chácara de sua mãe, entre as ruas Martinho Prado e Florisbela, onde hoje é o Teatro Cultura Artística. O projeto foi encomendado ao arquiteto italiano Tommaso Gaudenzio Bezz, que também foi responsável pela Praça da República e pelo Parque do Ipiranga e seu Museu.
O Velódromo Paulista, inaugurado em 1896

Assim em 1896 foi inaugurado oficialmente ou Velódromo Paulista, com sua pista de 380m. Com pomposa inauguração os relatos dão conta de um recorde, um tanto quanto duvidoso de 50km percorridos em 1h e 11 minutos em uma disputa com 60 participantes. Com o nome de Veloce Clube Olimpic Paulista, fundado por Doutor Jaguaribe e presdido por Doutor Borba, foi a primeira entidade a organizar provas de ciclismo em São Paulo. Ciclistas estrangeiros foram convidados para provas disputadas e em 1897 uma disputa de 309km foi vencida por Otto Hufembasch em 10h e 35 minutos.

Com a fundação do clube Athletico Paulistano em 1900, o Velódromo tornou-se sua sede e além do ciclismo, corridas a cavalo e um esporte novo eram disputados ali. Sim, as primeiras partidas de futebol em São Paulo tiveram como palco o Velódromo Paulista. O sucesso do esporte inglês fez com que o Velódromo recebesse a primeira reforma e em 1905 o espaço ganhou arquibancadas para duas mil pessoas, tornando-se o primeiro estádio do país em 1901.
A especulação imobiliária e o aluguel muito caro para jogos de futebol
Com localização privilegiada, o Velódromo recebia a maioria das partidas de futebol até a morte da matriarca dos Prado em 1910. A especulação imobiliária acabou pressionando os herdeiros que começaram o processo de lotear a chácara. Inicialmente o Velódromo ficou de fora com um arrendamento ao Athletico Paulistano. Contudo a direção do clube aumentou o valor de locação do espaço naquela que foi a primeira disputa de poder no futebol paulista.
O Paulistano acabou perdendo concorrência especialmente para o então clube Germânia (atual Esporte Clube Pinheiros), que utilizava um campo no Parque Antártica (onde atualmente é o Allianz Parque). Um efeito cascata então começou, o café entrou em crise e a especulação imobiliária influenciava as decisões dos herdeiros da família Prado.

Assim o terreno do Velódromo foi em parte cortado pela atual rua Nestor Pestana e loteado, ficando a maior parte com a Sociedade de Cultura Artística, que nos anos 50 construiu o Teatro Cultura Artística.
A cidade de São Paulo somente voltaria a ter um velódromo quase 30 anos mais tarde com o Velódromo do Ibirapuera. Atualmente a maior cidade da América Latina não possui um velódromo ativo. O único velódromo da cidade está fechado a mais de 20 anos dentro da Cidade Universitária. O ciclismo de pista é o esporte que mais distribui medalhas nos jogos olímpicos com um total de seis eventos para as categorias masculina e feminina, totalizando trinta e seis medalhas.
Em coincidência esse artigo começou a ser escrito na mesma semana que o Gregário Cycling publicou um podcast sobre velódromo, que você pode ouvir na íntegra aqui:
Esse artigo foi escrito tendo como fontes históricas o acervo de Caio Prado Júnior, e o TCC “O Jogo da Distinção: C.A. Paulistano e Fluminense F.C. – Um estudo da construção das identidades clubísticas durante a fase amadora do futebol em São Paulo e no Rio de Janeiro (1901 – 1933) de Renato Lanna Fernandez.
Que texto espetacular. Resgate histórico importantíssimo, parabéns!! ♀️