Treinamento de bicicleta na Grande SP, APCC resolve?

Luiz Papillon

 

Durante os últimos meses, a entidade que representa boa parte dos fabricantes e distribuidores de bicicletas no Brasil, a Aliança Bike, trouxe a tona uma discussão antiga sobre o ciclismo: Onde treinar na Grande São Paulo.

Ciclista segura cartaz em manifestação: Ciclismo em São Paulo não tem Apoio
Ciclista segura cartaz em manifestação na USP | Pelote Ciclismo

A pesquisa, que abrangeu mais de 3.000 praticantes do ciclismo de estrada pode ser consultada na íntegra clicando aqui. O Pelote Ciclismo é um dos apoiadores do Manifesto pela Ampliação Urgente de Espaços Públicos para a Prática do Ciclismo de Estrada, que pode ser conferido clicando aqui.

Mas o que é uma APCC?

É importante entender o fundamento da criação de uma Área de Proteção ao Ciclismo de Competição, a APCC. Apesar da principal modalidade de ciclismo no mundo ser praticada em estradas, nas grandes cidades torna-se muito complicado o treinamento em meio ao trânsito. Assim cidades como Rio de Janeiro, Salvador criaram circuitos bastante definidos para a prática de treinamento com horários definidos. A criação de uma APCC não significa que o ciclista ficará proibido de treinar no restante da cidade, mas sim que em especial treinamentos em pelotão serão direcionados para aquele local e horário.

APCC Aterro do Flamengo | Arte Fecierj
APCC Aterro do Flamengo | Arte Fecierj

Atualmente o ciclista paulistano possui alguns locais favoritos de treinamento:

  • Campus Oeste da USP (restrito por ação hostil da reitoria). Zona Oeste
  • Ciclovia CPTM da Marginal Pinheiros na Zona Oeste.
  • Estrada Velha de Santos em São Bernardo do Campo na Grande SP.
  • Entorno do Estádio de Itaquera, na Zona Leste.
  • Base Aérea de Guarulhos, na Grande SP.

Pensando nisso esse grupo de trabalho que envolve essencialmente ciclo-ativistas, está buscando junto a comunidade de ciclistas de competição justamente ideias para implementação de circuitos com horários pré-estabelecidos para treinamento. As APCCs criadas em outras cidades utilizam-se dos horários da madrugada (04:30 às 06:30 horas) e noite (19:30 às 21:00 horas).

Consequências de uma APCC, sem treinos de pelotão em ciclovias

Com adoção de APCC será natural que sejam vetados treinos em pelotão em ciclovias ou ciclofaixas, isso claro deve afetar especificamente muitos dos usuários em especial da Ciclovia CPTM da Marginal Pinheiros. Afinal um pelotão a 40km/h não freia, não pode assim parar para um pedestre, nem para um semáforo e isso é um fator impeditivo para a livre prática da modalidade em pelotão. Essas foram a motivação para que a reitoria da USP limitasse o uso do Campus por ciclistas esportivos.

Placa proibido bicicleta | Foto Pelote Ciclismo
Placa proibido bicicleta na Rua do Matão, Campus USP | Foto Pelote Ciclismo

 

Treinos individuais podem ser marginalizados?

Ainda não há um entendimento sobre os treinos individuais, esperamos que não ocorra a marginalização, assim como ocorre no Campus da USP, onde o ciclista com roupa esportiva é rapidamente cercado pelos seguranças patrimoniais e escoltado para fora dos limites da USP.

Flyer da CPTM lembrando o limite de velocidade na ciclovia | Arte CPTM
Flyer da CPTM lembrando o limite de velocidade na ciclovia | Arte CPTM

Assim, é importante que as entidades e representantes dos ciclistas conversem e a criação de APCC não seja um cobertor curto, resolvendo um problema e criando outro. Apesar da Federação Paulista de Ciclismo em nova direção estar entre as entidades que apoiam a criação de APCC, aparentemente a participação é na forma de apoio e não na concepção do planejamento.

Eventual restrição pode aumentar mortes de ciclistas em São Paulo

É constatável pelos instrumentos oficiais do governo (Infosiga, Datasus) que a vasta maioria dos acidentes em estrada ocorrem na proximidade das grandes cidades. Assim uma eventual restrição de horário de treinamento deve levar ciclistas esportivos que pretendam treinar em horários alternativos aos de funcionamento das APCC para o local bem mais perigoso: As estradas próximas a São Paulo.

Embora existam controladores de velocidade na aproximação de São Paulo, estes acabam funcionando com o lombadas eletrônicas, com os motoristas reduzindo a velocidade somente sob o radar para “apenas 120km/h” e voltando à acelerar em seguida.

Opinião:  APCC ajuda, mas mudar a mentalidade é fundamental

Para quem está com fome, um garfo ajuda a comer sopa e é assim que seguimos na luta pelo ciclismo. Claro que a adoção de APCC em São Paulo ajuda, mas é um pequeno passo.

É preciso estabelecer a mentalidade de respeito a todo ciclista ou pedestre independente da atividade que esteja fazendo no momento. Parece óbvio mas é preciso lembrar, são todos seres humanos e deveriam ter o direito de usar o espaço público. Claro no caso de treinos em pelotão há a questão dinâmica que destacamos acima, mas o treinamento individual deveria ser respeitado.

Placa Ciclistas em Treinamento no Tocantins | Foto TV Anhanguera
Placa Ciclistas em Treinamento no Tocantins | Foto TV Anhanguera

Ainda assim não podemos parar na adoção de APCC, é preciso também evoluir na cultura do ciclismo. Seja com campanhas educativas, seja com medidas ativas como a redução da velocidade nas estradas próximas a São Paulo. O exemplo vem do estado do Tocantins onde trechos da marginal da rodovia TO-050 em Palmas recebeu placas alertando sobre a presença de ciclistas em treinamento.

Por meio do aplicativo Strava é possível notar a alta incidência de ciclistas treinando nas estradas próximas a São Paulo como Anhanguera, Bandeirantes, Dutra, Fernão Dias, Anchieta e Imigrantes e acalmar esse trânsito só vai melhorar a vida e o treino de todos. É preciso ter tolerância zero com acidentes de trânsito, falamos sobre isso em 2020, confira aqui.

 

 

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