Destaques do Tour de France 2018 – Parte 1

Luiz Papillon

Neste domingo chega ao fim o Tour de France 2018. Acompanhamos por todo mês de julho a volta a França com 3.349km percorridos. No total largaram 176 ciclistas de 22 equipes e apenas 145 completaram a prova em Paris. Tendo Geraint Thomas como grande vencedor o Tour 2018 foi extremamente estratégico e brutalmente duro. Entre altos e baixos vamos falar dos destaques da edição 105 do Tour de France.

Froome e o Salbutamol

O tour começou polêmico com ameaças da organização em não deixar Chris Froome largar por prejudicar o esporte. A equipe Sky pressionou e a UCI finalmente deu o veredito no caso do resultado adverso por uso de Salbutamol (medicamento autorizado para uso em crise asmática) por Froome na Vuelta de 2017. Inocentado Froome largou em busca de igualar nada menos que Eddy Merckx o maior ciclista de todos os tempos. O caso primeiramente sequer deveria ter vindo a público mas foi vazado por alguém ligado a UCI e a WADA. Todo processo foi lento e mal informado ao público que se na Itália adotou o bom humor durante o Giro (quem não lembra do cidadão correndo com uma super bombinha atrás de Froome?), no Tour o papo foi outro. Froome foi hostilizado, recebeu cuspes e até empurrões em praticamente todas etapas. O britânico seguiu forte apesar de tudo mas seu corpo parecia sentir a disputa do Giro. Froome não conseguia acompanhar as principais acelerações e ao final da segunda semana jogou a toalha e passou a trabalhar por seu companheiro de equipe.

Geraint Thomas e a equipe Sky

A equipe Sky chegou ao final do Tour como grande nome a ser batido. Não só pelo maior orçamento mas sim pela melhor capacidade organizacional. Não há discussão na equipe, o plano é entregue e todos seguem a fio. Geraint Thomas foi acumulando vantagem logo nas primeiras etapas, após o contra relógio por equipes, Thomas já detinha 50 segundos de vantagem sobre seu companheiro e capitão. A distância só aumentaria ao longo das etapas. O trem de roladores da Sky com Kwiatkowski e Castroviejo como supergregários no plano  e Poels, Bernal e Moscon nas subidas manteve as demais equipes sobre pressão o tempo todo. Um ataque contra a Sky precisava ser meticulosamente bem executado ou o trem passaria por cima. E foi assim na maioria das etapas, nos alpes dos Pirineus quando Froome e Thomas ficaram sozinhos ambos responderam muito bem, Froome se defendendo e Thomas soberbo dando na cabeça de quem fosse. A parte ruim foi a exclusão do italiano Gianni Moscon por desferir um soco em Elie Gesbert da Fortuneo. Formada em 2010 a equipe Sky conquistou seu quinto título no Tour de France e quarta grande volta consecutiva.

Tom Dumoulin de especialista no contra relógio a novo Indurain

Enquanto a Movistar e Sky detém orçamentos acima dos 30 milhões de euros, a Sunweb torce o caldo para com pouco mais da metade fazer um papel de destaque nas grandes voltas. Tom Dumoulin venceu o Giro d’Italia 2017, foi vice no Giro 2018 e novamente vice no Tour de France. A Sunweb já começou o Tour com uma baixa, Wilco Kelderman sofreu uma queda durante o campeonato nacional holandês e ficou fora do Tour. Logo na primeira semana foi a vez da Sunweb perder seu super gregário e sprinter Michael Matthews. Ainda assim Tom Dumoulin manteve-se sempre entre os melhores do Tour conquistando diversos Top10 e a merecida vitória na etapa de contra relógio. Dumoulin tem contrato com a Sunweb até 2022, mas a equipe carece de oferecer maior suporte.

A decepção da Movistar

Dona do segundo maior orçamento do ciclismo, a equipe Movistar mais parece uma anarquia. Com um Mikel Landa novamente relutando em colaborar com a equipe, Nairo Quintana sempre passivo a equipe espanhola careceu de comando. Mesmo mantendo seus três ciclistas no Top15 a equipe fez muito menos do que poderia com uma equipe concisa. O melhor resultado de Mikel Landa foi um quinto lugar no Alpe d’Huez. Alejandro Valverde conseguiu um terceiro lugar no Mur de Bretagne ainda na primeira semana enquanto Nairo Quintana venceu a etapa curta de 65km na única performance de equipe da Movistar neste Tour.

Roglic, Lotto Jumbo

Os gratos destaques do Tour passam pelo esloveno Primoz Roglic que venceu a etapa rainha do Tour além de juntamente com Kruijswijk colocar a equipe holandesa em destaque na terceira semana do Tour. A equipe ainda contou com vitórias de seu sprinter Dylan Groenewegen em duas etapas na primeira semana do Tour.

Jovens destaques, Latour, Bernal já são realidades. Gaudu, Martin esperanças francesas e Daniel Martinez mais um colombiano dando show.

Fernando Gaviria – Quick Step com a camisa amarela

A França não vence o Tour desde 1985 com Hinault, as novas esperanças recaem sobre um trio de jovens ciclistas com Pierre Latour da Ag2r seu grande destaque. O jovem de 24 anos se defende muito bem no contra relógio e chegou bem mesmo ajudando Bardet em alguns momentos. Outros destaques franceses foram David Gaudu de apenas 21 anos que fez sua primeira grande volta e Guillaume Martin da Wanty que disputou até o final a camisa branca.

A camisa branca teve três franceses e dois colombianos no Top5, mesmo trabalhando por Thomas e Froome o prodígio Egan Bernal ficou apenas a 5:39 de Pierre Latour pela camisa branca. Teria ganho até com uma perna amarrada, a Sky. Bernal lembra um jovem padawan ajudando seus mestres jedi, esperando pacientemente sua vez. O último destaque jovem que faço é Daniel Martinez da equipe com menor orçamento no circuito mundial a EF Drapac. Daniel Martinez de 22 anos foi sétimo colocado na Milão Turin ano passado e terceiro no geral o Tour da California nesse ano, fez sua primeira grande volta com vários top20 é nome para ser acompanhado.

A força do ciclismo colombiano vai além da camisa branca. Fernando Gaviria de 23 anos apesar de ter desistido na etapa do Alpe d’Huez. Venceu duas etapas na primeira semana de Tour sendo o primeiro camisa amarela desta edição.

 

 

Coadjuvantes de peso

Alguns nomes apareceram em muitas etapas. Julian Alaphilippe da Quick Step esteve sempre presente em fugas, conquistou duas vitórias e a camisa de rei da montanha. O irlandês Daniel Martin fez dez Top10 atacou bravamente onde pode dando o máximo e chegando ao esgotamento. Foi escolhido o mais combativo de todo o Tour. A equipe Astana venceu duas etapas no Tour e sempre colocou alguém na fuga. Entre as equipes Profissionais Continentais a segunda divisão do ciclismo nosso destaque vai para a Wanty. A equipe belga teve destaque em diversas etapas com diversos ciclistas. Não eram apenas fugas malucas como ocorre no Giro d’Italia com equipes menores mas sim boas estratégias com Dion Smith, Guillaume Keirsbulck, o jovem Guillaume Martin que disputou a camisa branca até o final e o sprinter Andra Pasqualon que fez ótimas chegadas.

 

No próximo texto falarei sobre as etapas memoráveis do Tour de France 2018 e claro, sobre o tricampeão mundial Peter Sagan.

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