Que 2026 seja um ano de muitas pedaladas para todos!
“Quando o espírito está em baixa, quando o dia parece sombrio, quando o trabalho se torna monótono, quando as esperanças parecem mal valer a pena, basta subir numa bicicleta e dar uma boa pedalada pela estrada, sem pensar em nada além do passeio que você está fazendo.” – Arthur Conan Doyle
2025: o ano em que “dar uma volta” virou argumento científico
Fala, pessoal! 🚴♂️🚴♀️
Chegamos àquela época do ano em que a gente olha para trás e pensa: “eu treinei muito”… e o Strava responde: “tem certeza?”. Mas, brincadeiras à parte, 2025 foi um ano daqueles no ciclismo de estrada: roteiro de cinema, ataques de longe (longe mesmo) e um crescimento do feminino que não dá mais para chamar de “tendência”; é realidade.
Pogačar: quando o “modo avião” vira tática de corrida
Se 2025 tivesse um protagonista oficial, ele seria Tadej Pogačar. O esloveno simplesmente decidiu que o impossível é só uma opinião.
No Tour de France 2025, ele levou a amarela com autoridade, deixando Jonas Vingegaard em segundo e, de quebra, ainda faturando a montanha.
E se alguém achou que isso já era suficiente, veio o segundo semestre e ele falou: OK, agora eu vou ali buscar mais uns títulos. Resultado: campeão mundial novamente, em Kigali, num daqueles dias em que o ataque parece ter sido feito com um botão chamado teletransporte.
E o pacote clássicas também veio pesado: venceu a Volta à Flandres e Liège–Bastogne–Liège, confirmando que ele não quer só ser o melhor em montanha, ele quer ser o melhor em tudo que tenha bicicleta envolvida.
Para fechar com chave de outono, Pogačar ainda ganhou Il Lombardia, e não foi qualquer vitória: foi a quinta seguida por lá, um negócio que já o posiciona na categoria insuperável.
Ah, e como se o arco-íris não bastasse, ele também emendou o título europeu de estrada. Só perdeu para o Andrew Feather, do GCN. Em resumo: 2025 foi o ano em que o Pogačar colecionou estórias de palmarés que definiram o seu caminho para se tornar o maior de todos os tempos.
Van der Poel: o homem que transforma paralelepípedo em carpete
Do outro lado do ringue das clássicas, Mathieu van der Poel seguiu sendo aquele atleta que você assiste e torce muito por ele.
Ele venceu Milão–Sanremo (de novo), num daqueles finais em que a gente pisca e já acabou.
E no Paris–Roubaix, ele confirmou o reinado no inferno do norte: vitória e mais uma edição em que parece que o cara tem suspensão secreta.
É aquele tipo de temporada que deixa claro: em dia de Van der Poel inspirado, o pavê não é obstáculo, é cenário.
Vingegaard: o “plot twist” vermelho na Espanha
E o Jonas Vingegaard, que muita gente adora resumir como rival do Pogačar no Tour, fez 2025 lembrar que é, antes de tudo, um dos grandes voltistas da era.
Sim, ele foi vice no Tour, mas respondeu do jeito mais vingegaardiano possível, ganhando a Vuelta a España 2025.
Ou seja: se no Tour ele encarou o Pogačar de forma um pouco tímida, na Vuelta virou o chefão.
E só para dar contexto sobre o nível surreal da temporada: o Giro d’Italia 2025 ficou com Simon Yates, numa virada que entrou para a história.
O boom do ciclismo feminino.
Agora, se teve um ponto em que 2025 foi especialmente marcante, foi no ciclismo feminino de estrada. Não é só a qualidade da corrida (que já vem num nível absurdo), é a sensação de que o mundo começou a prestar atenção do jeito certo.
O grande símbolo disso foi o Tour de France Femmes 2025, vencido por Pauline Ferrand-Prévot. Foi impacto cultural, casa cheia, manchete e um salto de audiência que diz muito sobre o momento.
A final teve média de 4,4 milhões de espectadores na França e pico de 7,7 milhões (recordes), o que, para qualquer esporte, é um número respeitável e, para o feminino, é uma grande conquista e não há mais como voltar atrás.
Principais capítulos do ano no feminino, para guardar:
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La Vuelta Femenina 2025: vitória de Demi Vollering.
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Giro d’Italia Women 2025: título de Elisa Longo Borghini.
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Tour de France Femmes 2025: Ferrand-Prévot no topo do mundo.
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Mundial de estrada 2025 (feminino): Magdeleine Vallieres Mill campeã em Kigali.
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Europeu de estrada 2025 (feminino): Demi Vollering também levou a camisa continental.
E nas clássicas, teve de tudo: Kopecky brilhando na Volta à Flandres.
Ferrand-Prévot vencendo Paris–Roubaix Femmes (sim, 2025 foi mesmo o ano dela).
E ainda Milão–Sanremo Donne de volta ao calendário, com Lorena Wiebes vencendo.
Se você não acompanhou com atenção em 2025, aqui vai um conselho amigo para 2026: acompanhe. Você está perdendo corridas inesquecíveis.
E do meu lado, um começo promissor…
…e um segundo semestre no modo sobrevivência.
Falando de mim (porque coluna também é terapia, e terapia é mais barata do que trocar grupo eletrônico), meu 2025 começou muito promissor. Treino encaixando, motivação lá em cima, aquela sensação de que esse ano eu vou pedalar como nunca!
Só que… problemas outros (a vida, sempre ela) me fizeram diminuir muito o ritmo no segundo semestre. Acontece. Às vezes, o maior segmento do ano não é um KOM, e sim conseguir manter a cabeça no lugar.
Em termos de meu treinamento, a principal mudança foi a migração para o Rouvy. E vou confessar: eu já vinha sentindo, há um tempo, que, depois da aquisição do Sufferfest pela Wahoo e da transformação da plataforma SYSTM, o espírito do Sufferfest já não existe mais. Uma pena enorme. Era aquela mistura perfeita de sofrimento, humor e “por que eu estou fazendo isso comigo?”. Mas… vida que segue! Agora é fazer amizade com as subidas virtuais do Rouvy e fingir que aquilo é apenas um treino leve.
E que em 2026 venha mais estrada (e mais alegria)
Para 2026, dá para esperar muita coisa boa:
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Pogačar perseguindo o que ainda falta para bater Eddy Merckx (e a gente assistindo com a mão no queixo, tipo um documentário).
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Vingegaard tentando devolver a pancada no Tour e mantendo a Vuelta como território conhecido.
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Van der Poel transformando o paralelepípedo em palco e o sprint em espetáculo.
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E o feminino mantendo o ritmo de crescimento, com mais público, mais investimento e mais corrida decidida no braço, na tática e na coragem.
E para fechar, eu desejo a vocês um final de ano fantástico, com boas pedaladas, bons cafés no meio do treino e poucas surpresas mecânicas e eletrônicas (porque essas ninguém merece).
E que 2026 seja cheio de momentos como na citação do Conan Doyle:
Boas festas, bons ventos e… nos vemos no próximo pelote. 🚴♂️✨
PAF
Sobre o autor
Pedro Anselmo Filho, Ph.D., é engenheiro mecânico e pesquisador, com doutorado em combustão pela Universidade de Cambridge e mestrado em energia aplicada pela Universidade de Cranfield. Leciona os cursos de Engenharia Mecânica e de Controle e Automação da Universidade de Pernambuco (UPE). Pedala sem rodinhas desde os 4 anos e é ciclista entusiasta que gosta muito de estudar potência no ciclismo.
