Tour de Trump

Luiz Papillon

Você pode estar estarrecido com os resultados das eleições americanas, mas aqui no pelote o mundo é ciclismo e torcemos sempre pelo ciclismo de estrada.

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Donald Trump é um bilionário e ninguém se torna bilionário a toa e muito dificilmente por uma estrada sem dificuldades, e isso não foi diferente com o agora homem mais poderoso do planeta, um de seus muitos investimentos com prejuízo foi o Tour de Trump, mais tarde Tour Dupont.

John Tesh um reporter da CBS que cobrira o Tour de France de 1987 – vencido por Stephan Roche- convenceu seus diretores da necessidade dos EUA terem uma corrida com destaque, a ideia era aproximar a corrida da região de Atlantic City que na época florescia com os Casinos. A ideia foi sendo levada adiante e Billy Packer o “Reginaldo Leme” da NBA inicialmente planejou chamar de “Tour de Jersey” e conseguir patrocínio entre os casinos de Atlantic City, Packer então conheceu um dos executivos da rede de casinos Trump, a partir dai uma reunião foi marcada em New york com o big boss, a reunião durou poucos minutos com o Trump pedindo condições -licenças e autorizações públicas para a prova- e uma semana mais tarde Packer sugeria o nome da prova: Tour de Trump.

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O próprio Donald disse quase ter caído da cadeira ao ouvir o nome sugerido para prova, e topou o desafio, com um um premio total de U$250.000 a prova teria um belo atrativo financeiro, a prova foi inserida no calendario Pro-Tour entre o Giro e o Tour, exatamente na semana que atualmente ocorre o Amgen Tour of California, Criterium du Dauphiné e Tour of Suisse. Estava planejada a maior competição ciclística nos EUA, o sonho era tornar aquela prova uma versão americana do Tour de France e ter 2.000 milhas em distância total.

O cenário da época favorecia a prova, LeMond havia acabado de se tornar o primeiro americano a ganhar o Tour de France, rapidamente as cotas publicitárias foram vendidas, a NBC Sports fechou a transmissão. O primeiro Tour de Trump partiu de Albany no estado de New York em 05 de maio de 1989, percorreu 837 milhas em 10 etapas passando por cinco estados da costa leste, 114 pilotos de 15 países participaram da prova incluindo Greg Lemond que voltava de lesão.

A prova especialmente na primeira etapa enfrentou protestos anticapitalistas e Trump representava a essência do aproveitador.

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Protestos na primeira etapa em New Paltz – NY – Kevin Hogan

As principais equipes Pro-Tour foram Lotto, Panasonic, PDM e a seleção da União Soviética e o roster foi completado com equipes continentais como a 7-eleven, a chegada em frente ao casino Trump em Atlantic City deveria coroar o belga Eric Vandeaerden como vencedor, mas ele errou uma saída ao seguir a moto no final do contra relógio e perdeu a prova para norueguês Dag otto Lauritzen da 7-Eleven.

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Vencedores do primeiro Tour de Trump

 

A prova foi tida como um sucesso de mídia o que motivou Billy Packer a expandir, e mais uma história provinciana aconteceu, o governador de Maryland e também o prefeito de Baltimore queriam que a prova passasse por lá, mas havia alguém mais poderoso que eles, Joe Francis, outro multimilionário a época dono da maioria das estradas do estado, Francis não pediu dinheiro ou favores políticos seu desejo era prosaico:

– Diga a ele -Trump- que eu só dou minha benção a essa corrida se ele trouxer aquela princesa aqui!

A princesa em questão era o suntuoso iate de 281 pés de Trump que fora construído em 1980 por 100 milhões de dólares na época, hoje equivalente a algo próximo a 1 bilhão de reais. Desafiar um empresário flamboyant que adora auto-promoção era apenas colocar mais carvão no fogo, e uma etapa terminou justamente em frente ao porto de Baltimore onde estava o iate atracado.

Em meio ao anúncio da prova de 1990, Trump que estava em Tóquio para a luta Tyson x Buster Douglas virou notícia ao comunicar a separação com a então esposa Ivana, com o ventilador virado para si, Trump mergulhou em problemas fiscais no escândalo que tornou sua separação forçando Trump anunciar que deixaria de patrocinar a prova.

Billy Packer disse que Trump fez tudo que prometeu como patrocinador a corrida seguiu com o patrocínio da Dupont até 1996 tendo Lance Armstrong como vencedor em 95/96, mais um acontecimento fora da pista selou o destino da prova, John Du Pont herdeiro da empresa foi preso por assassinar o lutador de luta olímpica Dave Schultz (virou o filme Foxcatcher) e com todo escândalo envolvendo o nome DuPont a empresa suspendeu os patrocínios o que colocou um ponto final na prova, que sem dúvidas foi uma das sementes do ciclismo norte-americano.

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