Um dia após a última etapa da La Vuelta a España ser cancelada pela organização, o presidente da Espanha, Pedro Sánchez se pronunciou em apoio aos manifestantes pela Palestina Livre. A fala do presidente espanhol ecoou na UCI (União Ciclistica Internacional) que devolveu um duro comunicado, criticando e condenando a exploração do esporte para fins politicos, lembrando que no congresso da UCI que acontecerá em Kigali na próxima semana, delegações da Rússia, Ucrânia, Palestina e Israelense estarão presentes.
O governo espanhol seguiu na troca de farpas, exaltando o direito a manifestação pacífica e na crença de que o esporte não pode se manter indiferente ao que acontece no mundo, ressaltando que não há paz sem justiça e que usar o esporte para limpar um genocídio como o que está sendo cometido em Gaza, é uma posição política que contraria o espírito olímpico e os mais basicos valores esportivos.

Durante a semana, Pedro Sanchez, presidente espanhol expressou publicamente que Israel deveria ser proibido de participar de competiçòes esportivas internacionais enquanto a barbárie em Gaza continuasse. O governo espanhol comunicou ter cancelado um contrato de aproximadamente 700 milhões de euros em equipamentos militares de origem israelense.
“Hoje é o final da La Vuelta, nosso respeito e reconhecimento aos atletas e a admiração ao povo espanhol que se mobiliza por causas como a da Palestina” disse o presidente em Málaga no último domingo.
Uma das declarações mais contudentes dos ciclistas partiu de Michal Kwiatkowski, o capitão de estrada da Ineos, campeão mundial de 2013 que indicou um conflito entre a polícia fazendo vistas grossas e os organizadores da #LaVuelta25 buscando alternativas.
“Nenhuma federação baniu Israel de suas competições, nem mesmo a União Europeia. A UCI emitiu um comunicado, e entendemos que eles estavam cientes do que estava acontecendo.” disse Javier Guillén, diretor da La Vuelta
Javier Guillén lembrou também que a organização da Vuelta estava de mãos atadas, não podendo excluir a equipe israelense sem ordem da UCI com risco da própria organização ser processada.
Declaração da UCI sobre as manifestações na La Vuelta
A União Ciclista Internacional (UCI) expressa sua total reprovação e profunda preocupação com os acontecimentos que marcaram a edição de 2025 da Vuelta a España, em particular a interrupção abrupta da etapa final realizada ontem em Madri, consequência direta de uma série de incidentes vinculados às manifestações pró-Palestina.
Desde a chegada da corrida à Espanha, a Vuelta tem sido interrompida quase diariamente por ações militantes: indivíduos invadindo o pelotão, urina sendo jogada e ciclistas sendo colocados em perigo, ameaçando sua integridade física. Alguns sofreram quedas, lesões e foram forçados a desistir da corrida. Diante desses incidentes, os organizadores da prova reagiram com rapidez e calma, implementando medidas de emergência para garantir a continuidade do evento. Atuaram com profissionalismo exemplar, respeitando a autonomia e a independência do esporte.
Os atos repetidos que afetam um número significativo de etapas constituem uma grave violação da Carta Olímpica e dos princípios fundamentais do esporte.
Lamentamos também que o Presidente do Governo espanhol e a sua equipa tenham apoiado ações tomadas no âmbito de uma competição desportiva que poderiam prejudicar o seu bom desenrolar e que, em alguns casos, tenham expressado a sua admiração pelos manifestantes. Esta postura contradiz completamente os valores olímpicos de unidade, respeito mútuo e paz. Além disso, põe em causa a capacidade da Espanha de acolher grandes eventos desportivos internacionais, garantindo o seu bom desenrolar em condições seguras e em conformidade com os princípios da Carta Olímpica.
UCI condena veementemente a exploração do esporte para fins políticos em geral, e por governos em particular. O esporte deve permanecer autônomo para cumprir seu papel como ferramenta a serviço da paz. É inaceitável e contraproducente que nosso esporte se desvie de sua missão universal. Além disso, existem plataformas específicas que permitem que os Estados discutam suas diferenças.
Com a aproximação do nosso Congresso anual, na próxima semana, com a participação de representantes das federações nacionais Palestina, Israelense, Russa e Ucraniana, reafirmamos nosso constante apelo ao diálogo e à paz. O esporte deve unir, nunca dividir.
Por fim, aplaudimos o trabalho exemplar das forças policiais espanholas durante La Vuelta, que atuaram profissionalmente em condições extremamente tensas.
Agradecemos também aos organizadores da Vuelta por seu comprometimento e resiliência diante de uma situação sem precedentes.
Parabenizamos Jonas Vingegaard, vencedor da classificação geral da Vuelta a España 2025, que, apesar das circunstâncias, demonstrou uma força e perseverança notáveis ao longo desta edição.