Você pode até pensar, mas quem diabos é Laurens ten Dam? Por que raios o pelote vai escrever sobre um gregário? Bom, primeiramente qualquer um que pedale por 17 temporadas no ciclismo profissional merece um destaque. Segundo que Ten Dam é um sujeito único, que reúne aquilo que de mais nobre temos no esporte, a valorização e respeito pelo esporte e é disso que estou falando!
Ten Dam nasceu em Zuidwolde, um pequeno vilarejo no nordeste holandês. Após treinar com um ciclista olímpico, tornou-se profissional em 2002 quando assinou com a equipe de desenvolvimento da Rabobank depois correu pela Batavus (que viria tornar-se Shimano Skill, Shimano Argos e atualmente Sunweb), correu pela Rabobank (atual Jumbo Visma) e correu pela Belkin, Lotto Jumbo, Giant, Sunweb e nesta temporada pela CCC. Em seu podcast o holandês de 38 anos declarou:
“Eu sempre vou pedalar, mas não sei se você poderá chamar de ciclismo, eu vou parar como profissional. Em novembro completarei 39 anos e em seguida completarei 17 anos como profissional. Não planejei nada disso.”
Sofrer é parte do esporte, parte do ciclismo e algumas passagens são um misto de superação, dor, trauma e êxtase pelo respeito que caras como Laurens ten Dam tem pelo esporte. Ten Dam não é um “cururu” qualquer, é um cara FODA demais. A passagem mais famosa aconteceu no Tour de France de 2011, Ten Dam então pela Rabobank descia a Col d’Agnes quando caiu. Ao levantar-se estava sangrando muito e recebeu curativos e em segundos estava novamente sobre a bicicleta. Ele completou a etapa 14 todo ensanguentado. A imagem percorreu o mundo sendo marca da superação da dor do ciclista em prol de completar a prova. Em sua página https://www.liveslowridefast.com (viva devagar, pedale rápido), Ten Dam destaca essa história:
“Eu nunca abandono, eu nunca desisto, especialmente no Tour, é parte de mim” Laurens ten Dam
“Em 2011, eu caí na descida da Col d’Agnes nos Pirineus. De repente eu estava com meu nariz na valeta na lateral da estrada. Eu terminei a etapa com uma bandagem atravessando meu rosto. Nós escalamos o Plateau de Beille e eu sabia pela reação do povo que minha aparência era uma merda. Quando nós terminamos, o médico me levou ao hospital e eu apenas precisava de alguns pontos, nada tão mal. Como minha esposa disse: – Você não abandona o Tour por conta de um corte no lábio.
Nimguém gosta de cair, sofrer, se magoar, mas talvez eu lide com isso melhor que os outros. Eu talvez esteja mais cauteloso do que em minha juventude. Mas quando a corrida começa, você tem que acompanhar os caras que estão correndo. Você não pode tocar nos seus freios”
A melhor classificação de Ten Dam em grandes voltas foi um oitavo lugar na Vuelta/2012 seguido por um nono lugar em no Tour/2009. Mas como você já deve ter entendido o respeito que esse cara tem dos demais é muito além de sua performance e sim pela perseverança única. Para arrematar encerro com a descrição do “trabalho” para Ten Dam:
“Isso não é um trabalho. Muita da diversão na minha vida ainda é entorno do ciclismo. Eu fui a Barcelona assistir o Red Hook Crit apenas para ver o quão rápido eles conseguem ir nas fixas. E eu continuo amando pedalar na estrada, gravel, MTB, pista. Talvez não BMX, talvez porque eu não sou tão bom nelas.”
Laurens ten Dam um imã para acidentes
Existem sujeitos azarados, sujeitos que sofrem quedas e existe o Ten Dam. Em 2010 ele quebrou a pélvis em uma chegada em sprint quando uma barreira caiu sobre ele. Ainda em 2010 fraturou duas vértebras e o punho quando foi atropelado por um motorista com uma perna de pau que desviava de um gato. Além do acidente célebre do parágrafo anterior, Ten Dam caiu também no Tour de 2015, deslocou o ombro e chegou a ter o abandono noticiado. Que nada, o médico colocou o ombro no lugar e ele logo depois subiu na bike. A noite a dor era tamanha que foi alimentado por seus companheiros.
A última queda no Tour da Áustria
O que talvez tenha motivado Ten Dam a parar tenha sido sua última queda (é caro leitor, ele realmente é bom nessa parte) no Tour da Áustria. Durante a etapa 5 Ten Dam voou sobre o guard rail em uma descida e precisou ser levado para o hospital. A primeira mensagem mostrava muita angústia:
“Eu caí forte hoje, precisei de um monte de ataduras e ser levado ao hospital para ser examinado após uma queda em alta velocidade. No corpo nada quebrou, mas mentalmente estou quebrado. O esporte pode ser cruel conosco. Eu irei correr novamente nesse ano mas onde e quando é incerto neste momento”
Mais calmo em sua coluna algumas horas depois Laurens ten Dam escreveu:
“O médico passou 45 minutos mudando minhas ataduras, eu já estou sentindo pena da camareira por conta da minha cama ensanguentada.”
Fora do ciclismo, com muito ciclismo
Diploma em Economia, editor chefe de uma revista de ciclismo, dono de uma empresa que organiza provas de MTB, mestrado no instituto Johan Cruyff, loja online e podcast, UFA! O imparável Ten Dam vem se preparando para a vida no ciclismo profissional em um papel diferente do de ciclista. E não será surpresa alguma que tome um papel significante nos próximos anos.
Para encerrar, só tenho que agradecer a um cara como Laurens ten Dam: Obrigado pelos serviços, são pessoas como você que enaltecem o esporte.