Com um cartel de 91 vitórias na carreira, sendo 14 vitórias no Tour de France, aquele que já foi considerado o maior sprinter do planeta deixa ao menos momentaneamente o ciclismo. Falo de Marcel Kittel, a decisão de romper o contrato com a Katusha antes do final da temporada chocou o mundo do ciclismo. Especulações correm pelo mundo entre a depressão e a possibilidade de assinar no meio do ano com outra equipe.
Eu poderia especular muita coisa, mas fico com as palavras do ex-chefe de Kittel e maior especialista em vitórias na modalidade, Patrick Lefevere, diretor da Deceuninck Quick Step:
“Eu não acredito que ele esteja acabado! Ele não esta machucado, ele não faz coisas estúpidas. Para mim ele continua o mais rápido sprinter do pelote. Ele precisa de uma boa liderança que tudo irá bem, mas baseado puramente na base atlética, na minha opinião ele é o mais rápido” Patrick Lefevere
Marcel Kittel, de maior sprinter do planeta a pausa (ou fim) na carreira
O ano é 2011, após vencer quatro etapas World Tour na volta a Polônia o jovem Marcel Kittel da Skil Shimano venceu uma etapa da Vuelta da Espanha seguido pelo também jovem Peter Sagan. Surgia para o mundo um ciclista tímido, forte e ágil. Em 2013 o jovem alemão venceria quatro etapas do Tour de France de modo avassalador deixando gigantes como André Greipel e Mark Cavendish para trás. O Tour de 2013 também colocou a pequena Argos Shimano para o mundo com a mudança de atitude em relação ao doping, sendo retratada no documentário Clean Spirit. A equipe Argos perdeu patrocínio, tornou-se Giant Shimano, Giant Alpecin e enquanto isso Marcel Kittel empilhava vitórias. A dificuldade da equipe em conseguir um patrocínio que lhe garantisse a temporada de 2016 acabou por levar o sprinter para outro caminho.
O casamento perfeito: Marcel Kittel e Quick Step
O melhor sprinter do mundo na melhor equipe de sprinter do mundo, veio então o casamento perfeito. Marcel Kittel venceu em duas temporadas 26 provas, sendo 7 etapas do Tour de France. O mundo do ciclismo reverenciava seu rei. Aos 27 anos Kittel era o melhor sprinter do planeta. Veio então a oportunidade de um grande contrato. Com sua patrocinadora pessoal a Alpecin investindo pesado na equipe de origem russa mas agora com sede na Suíça: Katusha Alpecin. Contrato de multi-temporada com alguns milhões de euros na conta. Agora Kittel participava do olimpo do esporte mundial, onde dentre milhões de praticantes no mundo apenas um punhado consegue chegar.
Katusha o cemitério de talentos
Seria uma nova fase para Kittel e para a Katusha. Até começou bem com duas vitórias na Tirreno Adriático de 2018. Mas ficou por ai, o desempenho tanto da equipe como de Kittel despencaram. A Katusha teve apenas cinco vitórias em 2018. Em 2019 a equipe esta ainda pior, com uma vitória 1.1 (o mais baixo do ciclismo europeu) com o próprio Kittel e uma vitória de Rick Zabel no Tour de Yorkshire (2.HC). Não são números sequer decentes. Equipes da segunda divisão como a Vital Concept tem o triplo de vitórias na mesma altura da temporada. A equipe Katusha tem ótimos nomes como Ilnur Zakarin, Nils Politt e Enrico Battaglin. Mas algo acontece ali que simplesmente os resultados não acontecem. Tony Martin quatro vezes campeão mundial de contra-relógio passou em branco por dois anos na Katusha, já na Jumbo ressurgiu com ótimas performances. Assim no ciclismo mundial, se vencer é prioridade a Katusha não é um destino viável.
Assim coloco essa questão ao leitor, será Kittel o problema? Eu entendo que não, Lefevere entende que não e o histórico de talentos enterrados na equipe demonstra que não. Por isso credito a equipe como cemitério de talentos.
Marcel Kittel parou, o fim ou a chance de um recomeço?
Sem confiança, Kittel começou a gostar mais do tempo em eventos de marketing do que de corridas. Rumores de uma depressão passaram a circular na radio-pelote e neste dia 09 de maio de 2019 veio o anuncio da parada, que reproduzo abaixo. Quais as opções para Kittel no futuro? Pode colocar a cabeça no lugar e ressurgir? Se afundará numa depressão? Terá um contrato milionário no bolso para o meio do ano? São muitas especulações, mas do lado de cá do teclado torço demais para que ele volte.
A declaração de Marcel Kittel
Marcel Kittel anunciou em seu site pessoal que deixa momentaneamente o ciclismo. Não confessou a depressão, mas fico nítido no peso das palavras:
“Para mim foi um longo processo para chegar a essa decisão, onde eu levantei diversas questões sobre como e onde eu quero chegar como pessoa e atleta e o que é realmente importante para mim. Eu amo pedalar e minha paixão por esse belo esporte nunca se acabou, mas eu também sei o que isso requer de mim e o que eu preciso para ter sucesso. Eu acredito que cada um tem seus fortes e fracos e isso é um processo continuo para lidar com sigo mesmo e com a equipe para ser forte e obter exito. Nos últimos dois meses eu tenho tido o sentimento de estar exausto. Nesse momento eu não estou capacitado para treinar e competir no mais alto nível Por essa razão, eu decidi dar um tempo, tirar um tempo para mim, pensar nos meus objetivos e fazer um plano para o futuro.
Nesse ponto eu gostaria de agradecer a equipe pelos 1,5 anos e todo seu suporte. Especialmente eu gostaria de agradecer a equipe de apoio. Do fundo do meu coração eu posso dizer que eles são os melhores e mais trabalhadores que já conheci. Eu gostaria de agradecer aos patrocinadores e parceiro que continuam acreditando na equipe com seu suporte e conhecimento.
Eu tomei essa decisão baseado na minha experiência que mudanças levam você a novos caminhos e oportunidades. Apesar de todas inseguranças eu confio que ao fim encontrarei novas chances e desafios. De agora em diante eu colocarei minha alegria e felicidade acima de tudo e procurarei caminhos para encontrar isso no meu futuro. Eu estou muito excitado sobre o que esta para acontecer. Eu gostaria de pedalar e competir novamente no futuro e eu tenho que trabalhar um plano para estar apto a conseguir esse objetivo.
Esse é o maior desafio de minha carreira e eu estou aceitando isso.”