O dia das Mulheres e o sexismo no ciclismo!

Escrevo esse texto na luz da paralização da Omloop Het Nieuwsblad feminina para evitar que a ciclista Nicole Hasselman alcançasse o pelote masculino, no texto explico o que na minha opinião não é um ato de sexismo. Porém a reação da grande mídia e mesmo de leitores chamou atenção para o fato que trato nesse texto de opinião: Sexismo no Ciclismo.

O sexismo no ciclismo não só existe, como é extremamente reafirmado diariamente. Desde praticantes, colaboradoras, modelos, entrevistadoras, jornalistas, comentaristas e ciclistas profissionais sentem na pele os abusos. Para uma melhor abordagem convidei a comentarista especializada em ciclismo Estela Farah para compartilhar sua opinião e que nos brinda com o texto abaixo:

Trata-se de uma questão delicada. Quando abordamos este tema nos ocorre uma infinidade de implicações decorrentes do sexismo existente no âmbito do ciclismo profissional. Apesar dos recentes avanços dos movimentos feministas em direção à igualdade entre os gêneros, particularmente dentro deste ambiente as coisas parecem não caminhar na mesma velocidade. Ainda presenciamos situações e conjunturas que tornam muito claro que o desrespeito e a disparidade de gêneros prevalecem. Enquanto os homens desfrutam de salários consistentes e eventos de notoriedade mundial com patrocinadores megalômanos, as mulheres, por sua vez, se submetem a receber salários irrisórios, padecem com o orçamento baixo das equipes, estruturas precárias e premiações inferiores.

Progresso nos últimos anos é nítido, mas ainda longe do ideal

Estela Farah

Claro que já houve um progresso considerável em vista do que já foi, hoje em dia algumas provas já oferecem premiações equivalentes (mesmo que a prova feminina ainda não gere a mesma receita que a masculina), maior visibilidade graças à conscientização dos veículos de mídia de que é preciso transmitir e divulgar as provas para que a categoria possa evoluir midiaticamente, atrair maior publico e consequentemente maiores investimentos. A UCI também tem se mostrado mais preocupada com relação à promover e tornar o ciclismo de estrada feminino tao próspero e reconhecido quanto o masculino. Entretanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que possamos ver mulheres usufruindo dos mesmos privilégios que os homens possuem hoje.

Adentrando ainda mais na questão sexista, chega a causar espanto o quanto ainda existem conceitos obsoletos e discriminatórios na industria do ciclismo profissional. A mulher ciclista, pra alcançar notoriedade precisa mais do que apenas talento. Em alguns casos este nem sequer se faz necessário, o apelo sensual ainda conta mais.

Nenhuma grande marca jamais investiu em Sagan ou Cavendish pela beleza de suas pernas.

Já escutei inúmeras vezes de pessoas influentes dentro do ciclismo WT que, para atrair mais publico e mais patrocinadores, as mulheres tinham que usar jérseis mais decotadas, usar maquiagem, exibir mais o corpo. Dentro dos bastidores, não são raros os relatos de casos onde diretores esportivos favorecem atletas mais atraentes ou mais dispostas à sucumbir ao assédio. Até aí, no entanto, sem novidades no universo feminino. Todas sabemos que isso, infelizmente, faz parte do que toda mulher, em qualquer seguimento profissional, eventualmente é obrigada a encarar. E no ciclismo de estrada, que ainda é dominado por homens, isso não poderia ser diferente. Contudo, é preciso desconstruir a “normalidade” desses eventos e essa é uma das bandeiras que o feminismo defende, e uma das razoes pelo qual ele é necessário.

 

A boa notícia é que observamos hoje uma crescente melhora no cenário, em diferentes esferas, tanto no esporte como em seu entorno. Um maior numero de equipes, melhores condições trabalhistas (ainda distante do ideal, mas no caminho). Maior veiculação de competições na mídia e, como citado anteriormente, algumas com equidade de premiações entre homens e mulheres como vimos no Tour Down Under.  Um outro exemplo da conscientização geral do papel da mulher na sociedade e do conceito da não-objetificação do corpo feminino, podemos citar a extinção do protocolo envolvendo mulheres atraentes no pódio, por parte de algumas provas e, a tendencia é que se estenda pouco a pouco à todas as competições.

Pra finalizar, fica o meu convite para que os leitores busquem assistir à mais provas femininas. Não se deixe enganar por quem diz que são provas menos emocionantes que as masculinas, muito pelo contrario, muitas vezes a dinâmica das provas femininas se apresentam bem mais interessantes e entretenidas que as corridas dos homens. Ao dar a sua audiência, você colabora para que o numero de transmissões de provas femininas aumente, que novos investidores apareçam e façam o esporte crescer.

Estela Farah

 

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