1) A Equipe Sky como tal é apenas a ponta do iceberg, cujas raízes originaram-se no programa da British Cycling e no National Cycling Centre/Manchester Velodrome.
2) O National Cycling Center (NCC) foi fundado em 1994 para promover e desenvolver o ciclismo de pista britânico. É um centro fundado pelo Estado, institucionalizado e com acesso público (e provavelmente sigiloso) para coordenação de pesquisas conjuntas com universidades, escolas de medicina, etc., de tal modo que, excetuando a equipe Astana, nenhuma outra equipe profissional privada poderia jamais sonhar.
3) É compreensível que a NCC tenha começado o desenvolvimento do projeto com o ciclismo de pista, eis que são provas de desempenho puro, sem a necessidade de adaptações táticas frequentes às condições diárias e intempéries das estradas abertas. Por conta disso, os resultados começaram a aparecer: Jogos Olímpicos de 1996 – Chris Boardman e Max Sciandri ganharam medalhas na prova de estrada, apesar de ambos não terem quaisquer relações com a NCC. Jogos Olímpicos de 2000 – medalha de ouro para Jason Queally no TT de 1000m e mais três medalhas em eventos diferentes. Não obstante, nenhuma medalha em provas táticas como Sprint Individual, Madison, Keirin, etc., fora conquistada. Jogos Olímpicos de 2004 – 2 medalhas de ouro conquistadas por “Sir” Bradley Wiggins e Chris Hoy. Jogos Olímpicos de 2008 – Ano da dominação total. 7 medalhas de ouro do total de 10 disponíveis para provas de pista. Excetuando a competição por pontos e Madison masculino, a equipe do Reino Unido levou todas as medalhas de ouro nas provas de puro desempenho.
4) 2009 – O nascimento do Team Sky em estreita cooperação com a British Cycling. É exatamente a partir deste ponto que as evidências de um programa avançado de dopagem, começando nas modalidades com menos variáveis e de puro desempenho (ciclismo de pista), até o ponto de maturação e desenvolvimento para aplicação na modalidade mais tática e muito mais lucrativa (ciclismo profissional de estrada), começaram a chamar a atenção de quem observa de perto o desempenho anormal de atletas. Tal fato pode também explicar o motivo da súbita progressão no desempenho de atletas como Wiggins e G. Thomas a níveis anormais dentro da Sky. E por tratar-se de uma instituição nacional do Reino Unido, os mais avançados e melhores materiais e métodos de dopagem obviamente são de acesso restrito e jamais revelado às outras equipes adversárias. Até mesmo os atletas estrangeiros dentro da Sky são considerados “inimigos” da nação quando o assunto é campeonato mundial e olimpíadas. Por tal razão, esses mesmos estrangeiros contratados ao longo das temporadas parecem não poder contar com o benefício do “cardápio 5 estrelas” de doping, reservado apenas à nata dos ciclistas britânicos. Caso raro é o ciclista Richie Porte. Todos os demais (E. Boasson Hagen; Löfkvist; Gerrans; Uran; Henao; Deignan; Roche; König, etc.) nunca progrediram a ponto de mostrar um desempenho fora da curva, tendo estagnado e até mesmo apresentado queda no desempenho enquanto parte da equipe Sky. Tudo isso separa a Sky de quase todos os competidores. Salvo a Astana que pode também contar com verba estatal do governo, todas as demais equipes são mantidas pela iniciativa de empresas privadas. Ainda assim, creio que os maiores avanços da medicina esportiva são mais prováveis no Reino Unido do que no Cazaquistão.
5) Não creio que, como equipe, a Sky seja uma fraude maior do que a maioria de seus adversários, embora demonstre uma hipocrisia ultrajante ao insistir repetidamente em sua inocência a despeito de todas as evidências mostrando o contrário. Froome deu uma surra em adversários/equipes que não têm escrúpulos morais, pois se beneficiam de todos os métodos de dopagem disponíveis desde que não caiam na malha fina dos controles. Em minha opinião o grande diferencial é que as outras equipes estão restritas a "métodos conhecidos" como transfusão de sangue, micro-dosagem, etc., enquanto a Sky parece estar usando algo desconhecido, que ainda não chegou ao mercado e que pode ser livremente utilizado sem QUALQUER perigo de detecção (neste momento).
6) É exatamente esse “modus operandi” que está acabando com o suspense de um esporte que já teve seus dias de emoção e incerteza, ao mesmo tempo em que tornou a competição entre os ciclistas mais injusta do que nunca. Afinal, se as melhores e mais modernas drogas de desempenho estão disponíveis apenas a um grupo restrito de atletas de determinados países, por que os outros deveriam se preocupar?
7) Se apenas um seleto grupo de ciclistas, que somados não chegam a formar uma equipe completa, consegue ter acesso a algo que ninguém sequer sabe o que se trata, então o que fazem não pode mais ser chamado de esporte. É algo ainda pior do que acontecia nos anos perdidos de Armstrong, pois ao menos este aparentemente usava o que estava disponível aos outros. A diferença é que o texano podia usar livremente sem se preocupar, pois contava com a imunidade da UCI e tinha uma linha privada com os chefões para delatar quem quer ousasse ultrapassar o nível estabelecido por ele próprio para superá-lo (Iban Mayo, Tyler Hamilton). - Roberto Smera
