Flavio, a questão sobre pagar tributos e não ver resultados é polêmica e complexa.
Para bem ou para mal, os tributos que pagamos sem ver os resultados esperados acabam compensando os tributos não recolhidos pelos indivíduos mais pobres, isso sem levar para a discussão os desvios ou mau uso do dinheiro público. Adicionalmente, o inconformismo que você sente também é sentido por grande parte da população dos países com baixa carga tributária, que também alegam não ver o resultado dos tributos pago ou que não se utilizam da estrutura do Estado a ponto de justificar seu pagamento. Entretanto, na minha opinião, a questão mais importante é outra, que venho colocar aqui apenas com a pretensão de contribuir com algo que possa enriquecer o debate ou, no mínimo, ajudar a explicar por que as coisas são tão caras no Brasil.
Para entender de forma clara o tema da tributação, não basta apenas estudar as leis, alíquotas e etc. Há de se estudar, também, de forma comparada, a tributação em outros países e, ao transpormos esse conhecimento para a nossa realidade, não podemos deixar de considerar os aspectos econômicos e da própria ciência da economia, tampouco os aspectos sociológicos, comportamentais e culturais de cada país, sem esquecer das necessidades estatais, pois, afinal de contas, os tributos servem para suprir as necessidades financeiras dos Estados.
Sem delongas e simplificando de forma severa a discussão, o Estado precisa ser custeado e um dos mecanismos para tal custeio é a tributação, que, basicamente, pode recair sobre a renda, sobre a propriedade e sobre o consumo, que podem ser exemplificados, respectivamente, pelo IRPF, IPTU e ICMS. Segundo a teoria do fluxo circular de renda, o momento mais adequado a se incidir o fenômeno da tributação pode ser escolhido e a escolha de tal momento é particular para cada país, respeitando suas características e particularidades (pode-se por exemplo, retirar, via tributos, o dinheiro das famílias obtidos de seus salários ou retirar parte do lucro das empresas que as empregam).
No Brasil, tributa-se com mais intensidade o consumo, ao passo que nos EUA e em tantos outros países o modelo de tributação é mais voltado à renda, com impostos de consumo baixos.
Não vou entrar no mérito de qual modelo (tributo sobre renda, propriedade ou consumo) é melhor, mais justo ou mais equânime. Mas é notório que no Brasil a tributação sobre o consumo é bem elevada, o que explica, em parte, os altos preços que pagamos nos bens que consumidos. Os outros motivos dos altos preços estão relacionados aos "custos Brasil", como insegurança jurídica, burocracia, infraestrutura deficiente e custo do capital, mas isso é assunto para outra longa discussão.
http://direito.folha.uol.com.br/1/post/ ... renda.html" target="_blank
Desculpem-me pela longa mensagem, mas espero ter contribuído com algo construtivo para a discussão.