Antes da corrida, o repórter entrevistava o Thomas Pidcock e perguntou-lhe o que ele achava das pessoas comentarem que o Pogačar já era considerado o vencedor mesmo antes de largar. Tom Pidcock mascava um chiclete fez uma pausa longa e constrangedora que dava para ouvir além de seu mascar, os seus pensamentos não externados sobre a pergunta do repórter arrojado. Seu semblante mudou e disse que não era isso que público gostaria de assistir, que corridas precisam de emoção e do imponderado. Seu julgamento não poderia estar tão equivocado. Nós amamos ver o Pogačar em sua melhor forma, dando espetáculo.
O próprio destino poderia ter dado uma resposta menos dura ao Tom. Na verdade, foi uma verdadeiro karma instantâneo. Lutaram os dois bravamente no cascalho branco que dá o nome à semi-clássica (ou será que já é uma clássica?), hora um atacando e o outro defendendo. Quando ainda havia alguma tentativa de reação de Thomas, Tadej Pogačar perde a roda de trás em uma curva descendente e cái.
Pidcock habilmente desvia e quase que Connor Swift, da Ineos, vai junto para o chão. Naquele momento, Thomas deve ter realmente acreditado que chegaria em primeiro. Pensamento inútil, pois estariam os dois juntos novamente cinco quilômetros depois. Eu sinto ao falar aos fans do Pidcock, que é um ciclista extraordinário de sua geração, mas ele parecia um gragário de luxo quando finalmente decidiu Pogačar atacar sozinho para a vitória a 20 km da chegada.
Aquele ataque sentado no Colle Pinzuto, ao estilo canibal, causou verdadeiro impacto psicológico ao Pidcock. Ele ainda esboçou uma defesa numa pedalada quadrada, característica de quem realmente está tentando despejar potência acima de suas capacidades. A chegada com o uniforme arco-íris branco rasgado e manchado de sangue. À mostra, seus ferimentos no ombro esquedo, braços e mãos. Mesmo assim, um sorriso largo no rosto. O sorriso de quem sabe que não há adversários à altura de sua forma esplendorosa.
Tio Lance (sim, ele mesmo) fez um comentário pertinente em seu podcast (The Move) divagando o óbvio: Tadej Pogačar é o maior ciclista de todos os tempos. Johan Bruyneel foi preciso ao afirmar que Pogačar entrega exatamente o que é planejado para a corrida pelo seu diretor esportivo. E o garoto tem apenas 26 anos. Se não tiver nenhuma intercorrência que o atrapalhe fisicamente nos próximos anos, ultrapassará os números de Merckx.
Não percam a live das segundas do Bike Guru, com o Portuga e o Papito, eles vão explorar todos os detalhes dessa magnífica corrida de hoje. Que bom e que felicidade que o ciclismo é um esporte tão dinâmico.
Obrigado por sua atenção e paciência de nos ler até aqui. Um grande abraço!

