ESTUDO DE CASO - KURT ROAD MACHINE
Existe muita falácia sobre o que os "Trainers" podem fazer ou sobre sua real qualidade, principalmente nos Fóruns Brasileiros onde as análises são mais emocionais do que realmente técnicas, vide os babacas que defendem fabricantes de componentes Campy x Shimano.
O presente relato é feito com base no uso real do equipamento e comparações com outros equipamentos e/ou tecnologias diferentes (leias Magnéticos / Turbo Wind) que utilizei nos últimos 3 anos, ou seja, sem fanatismos ou frescuras para defender uma marca ou produto ok?
Assim, desde já fica claro, que é um relato isento e complemente pautado na minha opinião pessoal como usuário, leitor e curioso.
1. O Equipamento
O equipamento em questão é um Kurt Road Machine que foi adquirido no final de 2012 e desde então colocado em uso basicamente 2x por semana. Link:
https://kurtkinetic.com/products/kinetic-road-machine/" target="_blank
2. Escolha / Histórico
Já percebi que muitos aqui do fórum conhecem ou já ouviram falar da reputação deste equipamento, mas poucos conseguiram justificar o motivo de gastar um pouco mais de dinheiro para adquirir esse equipamento e não outros mais simples e baratos.
Em primeiro lugar é preciso esclarecer que independentemente do equipamento que você possua, o uso será muito parecido e ao final do relato vocês entenderão o motivo.
Como todo bom leitor e curioso, antes de adquirir o equipamento gastei horas preciosas lendo a respeito dos Trainers na internet, diversos sites me auxiliaram no momento da escolha e todos eles levavam em consideração alguns aspectos básicos dos trainers, entre eles:
- Uso / Finalidade
- Preço / Qualidade
- Confiabilidade / Robustez
- Precisão / Exatidão / Consistência
- Tecnologia
A ordem acima segue um fator lógico, em primeiro lugar define-se o uso e a partir deste ponto é possível seguir uma linha lógica até o limite da tecnologia existente e das possibilidades futuras.
Para aqueles podem ler inglês, segue uma lista de sites com Reviews interessantes dos mais diversos Trainers:
http://road.cc/review-archive?tid=10725" target="_blank
http://www.dcrainmaker.com/2012/10/my-2 ... early.html" target="_blank
http://www.dcrainmaker.com/2014/11/2014 ... tions.html" target="_blank
http://www.dcrainmaker.com/2013/10/2013 ... tions.html" target="_blank
http://roadcyclinguk.com/gear/rcuks-tur ... ide-2.html" target="_blank
A verdade hoje é que existem rolos de R$180,00 a R$3.500,00 e na minha opinião (item 7. abaixo) existem apenas três fatores para vocês gastar mais que R$ 800,00 reais em um Trainer:
- Precisão / Consistência;
- Exatidão (somente existirá se ele possuir um Medidor de Potência/Power Meter);
- Integração com outras plataformas (Trainer Road / Zwift / BKool / Training Peaks / Golden Cheetah).
Nos demais casos, onde nenhum fatores acima se fizer necessário, será apenas um caso de escolha de cor, qualidade de material / acabamento e possibilidade de regulagem (tanto na pressão do Rolete quanto da Carga), o que logicamente tem seu valor e utilidade pode custar algumas pratas a mais.
Em TODOS os casos a principal qualidade a se observar é a robustez e qualidade da construção do equipamento.
Isso é muito importante e pode fazer a diferença entre um valor bem investido e um fracasso nas compras, apesar do uso ser o mesmo na grande maioria dos casos.
Um bom exemplo é o Compu Trainer (
https://www.racermateinc.com" target="_blank), reza a lenda que até hoje ninguém ouviu falar de um Compu Trainer com a estrutura quebrada ou avariada, a estrutura é extremamente firme, sem frescura e visivelmente resistente e quando eu falei acima em “fracasso” eu me referi a comprar um produto pouco durável.
Sobre os Fatores citados acima, vamos falar de cada um de forma individual:
2.1. Precisão/Consistência
A escolha pelo Kurt começou pela sua consistência, ou seja, a capacidade do rolo em manter uma curva de potência com valores próximos aos da estrada na vida real (potência estrada), ou seja, os valores de potência na rua foram levados como referência na construção do equipamento, permitindo que o seu uso se assemelhasse o máximo possível com a sensação de pedalar na rua.
Logicamente existem outros equipamentos muito melhores e que se aproximam ainda suas curvas de potência à realidade, ou seja, existem curvas de potência bem melhores por ai, não se deixe enganar.
Quando falamos de Referência de Potência Estrada é preciso também levar em consideração fatores externos tais como, peso do atleta, vento, inclinação etc que não se aplicam no treino com Trainers estacionários (somente no uso em computadores que simulam isso - veja abaixo em Zwift).
Mas o fato que tornou o Road Machine um equipamento reconhecido dentre os Trainers de custo médio, foi a capacidade de manter essa curva de potência o mais estável possível levando em consideração oscilações de temperatura da unidade de fluido e/ou do pneu, tornando-se assim um Trainer Consistente e Preciso, mas Precisão não é Exatidão e é ai que começa a confusão.
2.2. Exatidão
Apesar da Curva de Potência do equipamento ser Precisa e Consistente, ela não é exata para um calculo Virtual (como acontece no caso do Trainer Road - veja item 3.2. abaixo).
Exatidão é a proximidade da potência declarada face a potência real aplicada, ou seja, um trainer só é exato quando a curva de potência dele bate com a medição de potência real. Em qualquer outra situação ele não é exato.
Agora há um caminhão de debate aqui no fórum e lá fora nas gringas, todos tentando entender se números EXATOS de potência importam!
Cheguei a discutir isso com Cebo e Clythio algumas vezes e verificamos versões diferentes, mas em última análise todos nós tivemos à mesma resposta, a EXATIDÃO só importa se você alterar dispositivos de medição (ou seja, ir do Garmin Vector para o Power Tap ou Quarq ou Pionner ou Stages etc) por que haverá uma diferença entre os números de potência o que poderia prejudicar a estruturação de um treino, no mais a PRECISÃO E CONSISTÊNCIA serão mais importantes, então vamos ficar fora desse debate de EXATIDÃO por hora,
Para aqueles que não entenderam segue abaixo o link de um gráfico que demonstra a mesma força sendo aplicada pela mesma pessoa e sendo medida em equipamentos diferentes (PowerMeters) e também em Trainers diferentes (não recomendo queimar a cuca com isso).
http://www.dcrainmaker.com/images/2013/09/image6.png" target="_blank
Aqui pode-se ver a importância da Consistência, e um Road Machine sendo medido pelo Power Tap e pelo Virtual Power:
http://blog.trainerroad.com/kurt-kineti ... tualpower/" target="_blank
Passando o ponto chato da Exatidão x Precisão, vamos falar sobre o ponto que inicialmente não era importante e se tornou uma grande surpresas ao passar desses anos, que é a Integração com outra plataformas.
3. Integração com outras Plataformas
Nos últimos anos surgiram diferentes plataformas que permitiram a integração da bicicleta e do Trainer com novas tecnologias.
3.1. SUFFERFEST
Inicialmente o SUFFERFEST foi a minha primeira febre.
Trata-se de uma série de Vídeos com instruções as quais permitia que você utilizasse o RPE (Rating of Perceived Exertion*),para atender às instruções que o vídeo indicava.
*algo como Graduação de Esforço Percebido, o qual criava uma métrica para que você pudesse analisar o seu esforço.
Para utilização do Sufferfest eu só precisava do vídeo (da Bike e o Trainer também) e nada além disso, ou seja, nenhum equipamento adicional, até hoje, qualquer pessoa que tenha uma noção do esforço que está fazendo pode treinar com o SUFFERFEST, em qualquer Trainer, de qualquer marca, de qualquer qualidade, de qualquer tipo (Rolo Livre ou Fixo).
3.2. TRAINER ROAD
Na onda do Sufferfest, para facilitar a minha vida (não sabia utilizar direito o RPE) surgiu a mais famosa plataforma, o TRAINER ROAD (
https://www.trainerroad.com" target="_blank), que nada mais é que um programa que permite a visualização de dados gerados pelo seu treino na tela de um computador/celular/tablet, facilitando a criação de treinos ou mesmo a sua execução de forma estruturada.
Neste caso a plataforma trouxe inovações importantes, permitia que os sensores da bicicleta se comunicassem com o computadores (seja ANT+ ou BTLE) permitindo que dados com Cadência / Velocidade de Roda / Batimento Cardíaco estivessem disponíveis para medição e ajustes, o RPE já não é mais um problema para mim.
Mas o grande segredo o Trainer Road foi a inclusão na sua base de dados de uma centena de Curvas de Potência dos mais variados Trainers (provavelmente o seu estará lá, seja ele fabricado na Tailândia ou na Polônia). Usando os dados de velocidade / cadência aliados o programa você terá uma análise da potência virtual (estimada na curva de Potência do seu rolo) o que permitirá você treinar com um pouco de parâmetro.
Pegue a sua bike, seus sensores, bota ela no rolo e liga o programa, ele permitirá que você faça um treino de potência, ele pode não ser constante, mas você poderá visualizar seus dados no Trainer Road.
Foi neste ai que eu tive a sorte de ter escolhido o Kurt Road Machine, pois a Consistência se mostrava importante nos treinos e estudos que eu vinha fazendo*, possibilitando um controle mais claro dos meus treinos indoor.
*importante ressaltar que os treinos nunca foram planilhados ou seguiram alguma lógica, eu apenas sentava e pedalava o que o programa mandava eu fazer.
A consistência da curva de potência do rolo permitia que eu tivesse potência similares sempre que subisse no trainer, ou seja, mesmo após 20 dias do meus primeiro treino e a curva de potência do rolo se mantinha constante e eu podia comparar a progressão de um dia com o de outro.
Foi ai que percebi que existia algo além da consistência, era o famoso fator PRECISÃO.
Só percebi que a precisão era importante quando um dia, durante um treino eu fiz pouca força para me manter a 200Watts durante 5 minutos e dias depois e chegar a 200Watts e manter, eu precisava fazer um esforço bem maior, era um sofrimento (comecei a entender o RPE) outra questão visível foi a alteração frequência cardíaca de um treino para o outro, era certeza que tinha algo errado como descrevo mais abaixo. (Entendendo a Exatidão, item 4. abaixo).
3.3. ZWIFT
Ainda no tópico Integração com Outras Plataformas, recentemente foi lançada uma nova plataforma, um programa chamado ZWIFT (
http://zwift.com" target="_blank) , ou “vídeo game” que permite você pedalar virtualmente com outros atletas e competir com eles. Atualmente o ZWIFT aceita apenas os sensores com tecnologia ANT+ (existe uma previsão de incluir os sensores BTLE na próxima atualização).
A grande diferença dele para o Trainer Road é que o programa simula uma corrida/pedal em condições onde vento contra, inclinação, descidas, peso da bike influenciam! Existe um calculo que é feito levando em consideração as informações fornecidas pelo atleta que permitem que mesmo com uma velocidade no rolo de 35km/h, ele esteja somente a 15km/h na subida do programa, uma que o que importa é a peso potência, mas isso é papo técnico par outro post.
4. ENTENDENDO A EXATIDÃO
Foi conversando com o Clythio que entendi o papel da precisão, mesmo com um trainer que possui uma curva de Potência Consistente eu não consegui fazer ele ser Preciso, de nada adiantava ter um rolo com grande consistência se eu não conseguia fazer ele ter medições mais precisas possível, e o erro era algo simples, pressão do pneu e pressão do rolete no pneu.
Clythio me explicou que apesar da unidade fluida do trainer ser consistente eu estava trazendo para ela elementos externos que alteravam o meu esforço, ou seja, se o rolete estivesse um pouco mais apertado no pneu, meus 200W (medidos virtualmente) seriam mais duros de ser alcançados, apesar da velocidade e cadência indicar o contrário. Foi o momento em que o RPE não conversou com os números do Trainer Road.
Tentei algumas coisas diferentes, criei um diário onde marcava a pressão do pneu e do rolete, e tentava repetir todo santo dia, muita coisa melhorou naquele momento, os esforços começaram a ficar mais parecidos e o RPE mais encaixado nessa leitura digital do que eu estava fazendo.
Em resumo nada adianta você ter um Trainer com um curva de potência precisa se você não souber minimizar os fatores externos.
Lendo um livro do Graeme Obree intitulado “The Obree Way” (
http://www.amazon.com/The-Obree-Way-Gra ... 1408196425" target="_blank) verifiquei que essa era uma questão antiga, até mesmo para o cara que foi Recorde de Hora Mundial. Para os curiosos, recomendo a leitura, vocês verão a diferença que uma faca de cozinha pode fazer no seu treino.
5. inRIDE
Mas depois de todo esse sofrimento foi que a coisa ficou interessante, a Kurt lançou uma pequeno sensor chamada inRide (
https://kurtkinetic.com/products/kinetic-inride-pod/" target="_blank), que permite que o Trainer transmita informações de potência (incluindo a oscilação de pressão de pneu ou pressão do rolete) ao Trainer Road e demais programas, ou seja, hoje além de consistente e precisa, a curva de potência do Kurt Road Machine é Exata*.
*a oscilação de potência comparada a outros powermeter é de aproximadamente 3% para mais ou menos.
A inclusão deste pequeno sensor no meu trainer gerou diversas mudanças, eu não precisava mais fazer o meu diário de treino, mas a mudança mais notória foi no meu FTP, que caiu de 234 watts para 189 watts. A nova leitura, agora mais EXATA permitiu que eu pudesse ter uma noção real do meu aproveitamento, me aproximando mais da realidade de quem treina com potência e dos valores reais que eu conseguia gerar.
No fundo, nada mudou no treino, pois quando usava a potência virtual, com um FTP de 234, meus treinos eram feitos para essa consistência de treino, ou seja, eu fazia treinos 10% acima do meu FTP. Hoje, com FTP de 189 continuo fazendo treinos 10% acima do meu FTP, o que mudou foi a referência, não a consistência do treino, continuo fazendo a mesma força, mas agora com uma leitura mais acurada.
Para aqueles que possuem o Kurt Road Machine ou o Kurt Rock n Roll, que utilizam o Trainer Road de forma séria e não possuem powermeter, esse sensor é algo obrigatório para a felicidade geral, bem como para um treino consistente, o tranformando em algo preciso e exato!
Testei o inRide no ultimo mês (recebi no final de Abril/2015) e a diferença nos resultados e na exatidão dos dados é gritante, vale muito a pena para as pessoas que tem interesse, são ligadas nesse tipo de informação ou que pretendem adquirir um powermeter ou já treinam com um, nos demais casos é jogar grana fora.!
6. REAL TURBOS (TRAINER DE CASSETE)
Como comentei, durante a minha procura por trainers pensei em vários deles e a escolha foi difícil, motivo pelo qual escrevi esse longo relato.
Não comprei nenhum dos Trainer conhecidos como “Real Turbos” por um simples motivo, o suporte onde a bicicleta encaixa é em um cassete.
Se eu tivesse comprado um Trainer desses e mudasse de grupo (Campagnolo / Shimano ou Sram) ou de quantidade de velocidades 7, 8, 9, 10 ou 11 eu teria que trocar o cassete do Trainer.
Minha esposa tinha uma bicicleta com um cassete de 7 velocidade, e seria bem mais fácil coloca-la em um trainer convencional, do que trocar de cassete toda vez que ela quisesse utilizar o trainer. Esse foi o motivo pelo qual que não escolhi um Real Turbo.
Abaixo seguem alguns exemplos “Real Turbos”:
http://www.elite-real.com/en/products/real-turbo-muin" target="_blank
http://www.wahoofitness.com/devices/kickr.html" target="_blank
http://greglemond.com/#!/revolution" target="_blank
Todos esses turbos são mais consistentes e exatos que o Kurt Road Machine, pois medem a potência no cassete, minimizando as interferências externas, mas infelizmente naquele momento não atendiam as minhas necessidades.
Então, antes de escolher seu Trainer, preste atenção a todos os detalhes, faça uma lista e divirta-se com as dúvidas.
7. RESUMO
Se você não usa nenhum programa ou plataforma eletrônica, se você não liga para dados de potência, se você não tem interesse em treinos estruturados que levam em consideração e precisam da métrica da potência, você não precisa de um trainer caro!
Com QUALQUER TRAINER você pode fazer um excelente treino, somente pautado no RPE, sem a necessidade de gastar tubos de dinheiro em um equipamento mais consistente, afinal com o RPE você estará fazendo o esforço pautado na sua percepção e ai Consistência / Precisão / Exatidão pouco importam, de verdade.
Essa grana adicional, necessária para comprar rolo “supostamente melhor”, pode ser salva para comprar peças novas para a bicicleta ou para levar a patroa para jantar (assim você ganha pontos em casa) e mesmo com um rolo “supostamente mais simples” ainda a será capaz de fazer treinos fantásticos.
Se você já gastou grana em um Trainer ótimo mas não tem ideia do que eu falei acima e não usa as plataformas digitais, só posso te dizer que você comprou um rolo durável, robusto, silencioso, e que vai durar anos e anos, mas sinceramente não faz diferença alguma treinar nele ou em qualquer outro Trainer mais barato.
Enfim, espero que este post ajude os colegas a entender suas necessidades, ajude vocês a economizar grana e pensar muito em como utilizarão este equipamento.
8. INFORMATIVO
Durante os últimos anos utilizei os seguintes rolos:
- CycleOps Jet Fluid
- CycleOps Fluid2 Trainer
- Kurt Cyclone
- Tacx
- Tranz X
- HomeTrainer Inride (B-Twin)
- BKool
- Wahoo Kicker
- LeMond Revolution
- Compu Trainer
Todos eles foram idênticos quando usados com RPE, as diferenças eram o barulho (alguns mais altos e agudos, outros mais silenciosos) e a regulagem de potência (lembram-se que rolos Fluidos não tem regulagem de potência), recomendaria todos eles com as suas devidas finalidades e durabilidade.
Alguns possuem facilidades, como por exemplo o CycleOps Fluid2, ele possui uma alavanca que engata a bike sem precisar ficar regulando e por neste ponto ele dá de 10 a 0 no Road Machine da Kurt.
Enfim, ter um trainer caro para não usa-lo como deve é jogar dinheiro no ralo, não seja um consumista tolo, compre o mais barato, use seu RPE e seja feliz!
Aos que desejam comprar rolos Fluidos ou Mais Sofisticados, somente os façam se realmente procuram algo mais estruturado e técnico, caso contrário me agradeçam e paguem a cerveja.
Bom treino pessoal.
Abs,
W