Olhando para dentro do Capô...

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pugpugpug
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Olhando para dentro do Capô...

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Capítulo 1 - Fibras Musculares

Existe um momento em que você para e se interessa pelo que tem dentro do capô, o motor.

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No ciclismo o motor é nosso corpo, e assim como os motores a explosão se diferenciam entre si por muitas características, nós também nos diferenciamos.

Eu pesquiso um pouco sobre esses assuntos... Vou colocando aos poucos neste tópico para quem interessar. (recorta e cola geral aqui).

Como linhas gerais, podemos comprar uma bicicleta de um atleta de pró-tour, mas não podemos comprar um motor novo. Podemos apenas retificar o que possuímos, melhorar sua alimentação, trata-lo com carinho ou foder ele de vez.

Vou começar colocando um aspecto central: Que tipo predominante de fibras musculares você possui?

Basicamente, a maioria das pessoas pensam que existem 3 tipos de fibras musculares, Tipo I, IIA e IIB.

Porém existe a Tipo IIX também, cuja existência é relativamente nova para a ciência.

FIBRAS MUSCULARES TIPO I (CONTRAÇÃO LENTA). Este tipo de fibra possui resposta de contração lenta, é mais avermelhada (escura), pois possui maior número de capilares sangüíneos o que proporciona ao músculo maior suprimento de sangue e, conseqüentemente, de oxigênio. Apresenta também grande quantidade de mitocôndrias que são o "pulmão" da célula, responsáveis pela "respiração" celular, ou seja, usam o oxigênio para obter energia.


São fibras pequenas, com pouca capacidade de hipertrofiar, ou seja, de ganhar volume muscular. São resistentes à fadiga, pois possuem metabolismo predominantemente aeróbico (dependem de oxigênio para gerar energia), por isso respondem às atividades de longa distância. Os maratonistas apresentam predominância desse tipo de fibra.


FIBRAS MUSCULARES TIPO IIA (CONTRAÇÃO RÁPIDA). São fibras que apresentam rápida velocidade de contração. São mais pálidas que as fibras de contração lenta (Tipo I), pois possuem menor número de capilares sangüíneos apresentando, assim, menor suprimento de oxigênio. Apesar dessa característica possuem boa capacidade de metabolismo aeróbico fadigando menos que as fibras tipo IIb (contração rápida também).


Sua capacidade de produzir energia utilizando oxigênio é inferior se comparada às fibras de contração lenta. Porém, podem melhorar consideravelmente com o estímulo de contração, além de possuir metabolismo anaeróbico de média duração, ou seja, produzem energia mesmo sem a presença de oxigênio.


Sendo assim, são fibras de características intermediárias que possuem grande capacidade de hipertrofia, isto é, ganham mais massa comparado às fibras musculares tipo IIb, porém apresentam menor capacidade de produzir força muscular. Essa fibra é mais desenvolvida em indivíduos que aparentam possuir maior volume de massa muscular, como por exemplo, os fisiculturistas.


FIBRAS MUSCULARES TIPO IIB (CONTRAÇÃO RÁPIDA). Essas fibras são mais pálidas que as fibras Tipo IIa pois possuem um número ainda menor de capilares sangüíneos e assim um suprimento sangüíneo ainda mais pobre que as anteriores, o que caracteriza um metabolismo predominantemente anaeróbico.


Elas são recrutadas em atividades que necessitam o uso de maior força muscular e por isso desenvolvem maior força numa única contração, porém são mais suscetíveis à fadiga. Ganham volume, aumentam facilmente de tamanho, mas se "cansam" rapidamente. São maiores que as fibras musculares de contração lenta (Tipo I). São predominantes em atletas que praticam atividades de grande potência num curto período de tempo, como corredores de 100 m.


FIBRA MUSCULAR TIPO IIX

A fibra mais rápida do músculo esquelético humano é uma fibra tipo IIx, e não uma fibra tipo IIb.
A fibra muscular esquelética mais rápida em muitos animais é a fibra tipo IIb. Por vários anos, acreditou-se que a fibra mais rápida do músculo esquelético humano também fosse uma “fibra tipo IIb”. No entanto, pesquisas recentes revelaram que o músculo esquelético humano provavelmente não contém essas fibras e que a fibra muscular mais rápida nos humanos é a fibra tipo IIx. A seguir a história por trás dessa mudança no pensamento científico.
No final da década de 1980, cientistas alemães e italianos descobriram uma nova fibra muscular rápida no músculo esquelético de roedores. Essa fibra foi denominada “fibra tipo IIx” e sua existência foi confirmada por muitos laboratórios. Desde a descoberta dessa fibra em roedores, foi determinado que o tipo de miosina contida na fibra muscular mais rápida nos humanos possui uma estrutura similar à presente na fibra tipo IIx de roedores. Por conseguinte, cientistas atualmente acreditam que o tipo de fibra muscular esquelética mais rápida em humanos seja a do tipo IIx, e não a do tipo IIb, como se acreditava inicialmente.
POWERS, 2009

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Algumas pessoas são mais velozes que outras. Até aí todos concordam, mas por que é que alguns corredores com o mesmo histórico de treino apresentam tanta diferença de VELOCIDADE pura? Quando se descobriram os diferentes tipos de fibras musculares, concluiu-se que estava aí a resposta definitiva, mas hoje estamos nos afastando um pouco desta hipótese.

COXA ESCURA, PEITO BRANCO. Essa diferença no conteúdo das fibras musculares explica a diferença de cor entre a coxa e o peito de frango, por exemplo: a carne das coxas é mais escura, enquanto o peito tem carne branca. Isso porque no frango o tipo de fibras das musculaturas da perna e do peito são diferentes. Uma galinha passa o dia no chão, e realiza apenas breves vôos. Seus músculos das pernas são adaptados para realizar trabalho durante longos períodos, em baixa intensidade, enquanto o peito está adaptado para breves e fortes contrações das asas. Aves que voam com mais frequência apresentam uma carne mais escura no peito e nas asas. A cor da musculatura é na verdade o resultado final do processo: o tipo de inervação que uma fibra muscular recebe irá determinar o tipo de trabalho que ela está mais apta a realizar, e o trabalho que ela realiza irá determinar o conteúdo da fibra muscular, podendo alterar sua coloração.


Diversos estudos foram realizados tentando explicar diferenças em níveis de força e velocidade de pessoas a partir dos seus tipos de fibra. Alguns músculos parecem ser bastante estáveis quanto a sua composição. Os eretores da coluna, por exemplo, possuem uma grande predominância de fibras tipo I (lentas), e isso se justifica pelo seu uso constante como músculos posturais. Já as musculaturas dos membros inferiores e superiores apresentam uma variação maior entre pessoas, porém longe do esperado para explicar diferenças em performance de forma satisfatória. A grande maioria das pessoas apresenta uma distribuição parecida de tipos de fibras nos músculos das pernas, por exemplo, com uma variação talvez de 10% para mais ou menos que a média, ou seja, nada que crie uma relação inabalável entre tipos de fibra muscular e desempenho em diferentes distâncias.


Mas vamos deixar a fisiologia quieta por algum tempo e pensar na corrida, para que fique mais claro. Algumas pessoas são mais velozes do que outras, isso é fato, e é quase prontamente atribuído à distribuição dos tipos de fibra em nossos músculos, o que não é necessariamente correto. O problema aqui são os nossos parâmetros de comparação: digamos que você corra os 100 m rasos em 14 segundos, e seu companheiro de treinos, de mesma idade e tempo de treino etc, não consegue baixar dos 16 segundos. Vocês resolvem, então, começar a treinar para melhorar suas marcas nos 100 m, e após algum tempo a sua marca baixou quase um segundo inteiro, e a de seu amigo apenas dois ou três décimos. A explicação virá rápido: o problema é que seu amigo possivelmente possui mais fibras lentas que você, é um fundista por definição, enquanto você possui mais fibras rápidas, que lhe proporcionam breves períodos de potentes contrações musculares. Tudo muito bem, tudo explicado. O problema é que você provavelmente também ganha do seu amigo em todas as provas de distâncias maiores, até a maratona. É aí que a teoria da distribuição de fibras começa a perder as asas.




O EXEMPLO DOS PROFISSIONAIS. Nada MELHOR do que atletas profissionais para ilustrar esse ponto. O queniano Samuel Wanjiru, campeão da maratona no jogos olímpicos de Beijing e recordista mundial da meia-maratona, até tempos atrás era campeão mundial júnior em provas como 5.000 m e mesmo provas como os 800 m. Peter Coe, pai e treinador de Sebastian Coe, dizia que se os meio-fundistas subissem de prova com o passar do tempo eles iriam dominar todos os eventos até a maratona, e isso tem se confirmado com atletas como Wanjiru e tantos outros.


Esse tipo de domínio em provas de duração tão diferentes começa a ser um problema para o "argumento das fibras", mas ainda resta uma esperança: o atleta vai mudando de prova ao longo do tempo, então é possível que seu tipo de fibras mude com o tempo e isso explique que ele se dê bem em todas, certo? Não tanto. A capacidade de mudança das fibras, até onde sabemos, é limitada. O neurônio conectado à fibra não muda, e é ele quem determina o tipo da fibra. No entanto, aquelas fibras intermediárias, as do tipo IIa, parecem ser bem propensas a "trocar" seu conteúdo interno, dependendo do treino realizado, de forma que fiquem mais parecidas com fibras lentas ou com as rápidas. As duas, aliás, também podem adaptar seus conteúdos, porém em menor escala.


Olhando a questão por outro ângulo, pense no seguinte: Wanjiru é o campeão olímpico da maratona e recordista da meia, pela teoria um corredor cheio de fibras lentas. Porém, durante sua meia maratona em ritmo de recorde mundial ele corre cada parcial de 100 m para uma média aproximada de 16 segundos! Ou seja, o mesmo ritmo de seu colega de treino quando faz um 100 m rasos. Agora imagine Wanjiru correndo os 5.000 m, os 1.500 m e daí por diante. Corredores fundistas de elite também são excelentes velocistas, tendo marcas em 100 m melhores que muitos velocistas amadores, possivelmente na casa dos 11segundos baixos ou mesmo 10 segundos altos.




VELOCIDADE É A CHAVE. O importante dessa discussão é que seu tipo de fibras possivelmente não determina sua performance, mas independente disso, a velocidade é a chave para o sucesso em qualquer distância, e deve ser treinada para promover as melhoras necessárias. Um corredor capaz de correr os 100 m em 15 segundos possivelmente estará muito mais à vontade e coordenado correndo no ritmo de 25 segundos/100 m, durante um 10 km, do que um corredor que tenha um 100 m de 19 segundos e tente fazer o mesmo (ele não vai conseguir).


Se aceitarmos que a velocidade é definida pelo seu tipo de fibras, por sua vez definido pela inervação, esta última "imutável", só nos resta aposentar os tênis e comprar um jogo de xadrez. Desvincular a velocidade do tipo de fibras nos permite partir para outros paradigmas em que a velocidade pode ser trabalhada com uma margem maior de sucesso.


Alguns outros fatores, além do tipo de fibras, costumam estar implicados com nossa velocidade máxima de corrida, alguns dos quais permitem que tenhamos alguma influência e outros não. Entre os que não podemos mexer estão coisas como o tamanho de nossos segmentos corporais e os locais em que nossos músculos se ligam aos ossos, o que pode gerar forças de alavanca maiores ou menores. Nas coisas mais "interessantes", ou seja, aquelas com as quais podemos tentar trabalhar, estão a força da passada, a pré-ativação muscular no momento em que os pés tocam o chão, a sincronização da ativação da musculatura, além de nossa técnica de corrida, todos os quatro inter-relacionados.


Alguns estudos já mostraram que corredores mais velozes o são não em função de trocarem as pernas de lugar mais velozmente, mas sim por terem uma maior força (e comprimento de passada, por tabela) a cada passo. Essa aplicação de força se alia a pré-ativação da musculatura no instante em que o pé toca o solo. Aparentemente corredores que já tocam o solo com a musculatura mais ativada disperdiçam menos energia elástica, por ter uma alavanca mais firme, o que lhes dá um pouco a mais de força a cada passo.


Estes dois fatores, junto com a sincronização da musculatura, permitindo que as diversas fibras de um músculo se contraiam de forma a maximizar a capacidade de força, resultam em uma técnica de corrida mais eficiente. Os meios de se treinar isso são basicamente a execução de sprints curtos, treino de força, e principalmente exercícios explosivos e pliometria.


Quanto mais jovem, maior o potencial para trabalhar a velocidade, até mesmo pelo impacto e stress físico que o treino demanda. No entanto, todos os corredores podem se beneficiar ao montarem seus planos, e quem sabe podar alguns segundos de seus 100 m para economizar alguns minutos na maratona.

obs.: crédito parcial do fim.. http://revistacontrarelogio.com.br/mate ... rformance/
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