Críticas contra Henrique Avancini em áudios vazados, colocaram o MTB brasileiro em pé de guerra com Celso Anderson, comentarista de ciclismo da ESPN.
De um lado o maior nome do MTB brasileiro, Henrique Avancini que conquistou dois títulos mundiais na categoria cross-country maratona, além de ter sido da elite mundial do MTB por muitos anos, conquistando vitórias históricas para o ciclismo brasileiro, do outro o experiente comentarista de ciclismo da ESPN que há vinte anos comenta provas como o Tour de France, Celso Anderson. No meio de tudo, áudios vazados que colocaram em pé de guerra a comunidade de MTB com o comentarista.
A Origem da discussão: Projeto Expedições de Henrique Avancini
Henrique Avancini, iniciou um projeto de viagens e divulgação chamado Expedições e que consiste em encontrar heróis locais e bater recordes no app Strava. Confira abaixo o lançamento:
No segundo episódio, Henrique Avancini encarou o Pico do Jaraguá em São Paulo, um famoso segmento cuja história no ciclismo nacional remonta aos anos 80, onde no local foram disputados algumas etapas do Campeonato Paulista de Montanha. Confira o vídeo de Henrique Avancini:
No vídeo, Avancini “cutuca” (12;35min) os ciclistas da geração do doping, que lideram o segmento. Esse foi o gatilho. Antigos e velhacos do ciclismo de estrada se pegaram ao comentário que Avancini deixou para a “nova geração”.
Celso Anderson tem áudios vazados: Campeão de Merda
Foi na esteira desse vídeo que Celso Anderson iniciou as criticas em uma live (já apagada) no Instagram. Na sequência, Henrique Serra, terceiro colocado no segmento teria vazado os mencionados áudios. A partir de então diversos canais divulgaram os áudios, o que serviu de motivação para fãs de MTB cancelarem Celso Anderson.
A transcrição dos áudios pode ser lida:
“Acabei de ouvir, é exatamente isso. Já falei isso até em transmissão, eu estou cagando pra esse cara. Os caras ficam endeusando esse cara, ah beleza, andou pra caralho no mountain bike… é cada um na sua. É bem o que você falou, esse cara cansou de tomar cacete do Jean (Coloca) em Estrada Velha (Campos do Jordão), não saia nem na foto e vem querer dar uma de sei lá o quê aqui. Palhaçada, eu sempre falei isso, campeão mundial de merda. Foi o que até falei ai, você deve ter ouvido a live que eu fiz. Os caras ficam de cara – Uh o Celso comentarista…, tem que falar a verdade, não é ficar coçando o saco desses babacas que acham que ele fez uma coisa, pode ser o que quiser na vida. Vá tomar no rabo.
É o que eu falo, está cheio de cara no instagram que é Campeão Paulista, Campeão Brasileiro, Campeão Mundial, ai você vai ver tem dois caras no pódio, foram três, um não conseguiu terminar, tem o que ganhou, o segundo chegou a 3h, o campeão mundial da classe JP24…XPLR2 +60, ah vai tomar no cu.”
Reação do MTB foi forte, Celso desliga instagram e deixa transmissão da ESPN
Equipes, dirigentes, ciclistas e o público reagiram de forma intensa aos áudios vazados. Assim que começou a Paris Nice 2024, a hashtag #ciclismonaespn foi inundada por comentários críticos a Celso Anderson. Algo que talvez tenha motivado Celso a se pronunciar com um pedido de desculpas e que foi rapidamente aceito por Henrique Avancini, que em nenhum momento se manifestou. Logo após o pedido de desculpas, Celso Anderson desativou as redes sociais e não apareceu mais no ar na transmissão da ESPN.
Celso Anderson se desculpou com Avancini pic.twitter.com/RS9yWeoUHx
— O País Do Ciclismo (@opaisdociclismo) March 5, 2024
As etapas finais contaram com convidados como Ana Lídia Borba, Nicolas Sessler e Ronaldo Martinelli nos comentários. Ficou então a expectativa do motivo desse afastamento do veterano comentarista, alguns levantaram que Celso teria contraído covid, outros que teria sido demitido da ESPN.
Segundo apuramos, Celso Anderson continua sendo o comentarista avulso (prova a prova) da ESPN para ciclismo e seu afastamento teria sido voluntário até a poeira baixar.
Polêmicas e críticas de Celso Anderson
Terceiro dos irmãos Anderson, Celso Anderson cresceu tendo o atleta olímpico Clóvis Anderson, seu irmão mais velho e Cleber Anderson, bike fitter e ex-atleta da seleção brasileira de pista. Foi ciclista competitivo e desde os anos 2000, comanda os comentários de provas de ciclismo na ESPN como o Tour de France. Irreverente, Celso não mede em divulgar posições fortes e até práticas contestáveis como pegar rabeira de caminhão pedalando. Nas redes sociais, um pouco mais aguerrido não gosta de críticas em especial dos “corneteiros” que criticam quando chama ciclistas de “Cururus” ou aposta que “esse ai nunca vai ganhar nada”. Pelo sim pelo não, segue firme nos comentários da ESPN.
Você pode não gostar de Celso Anderson, de não achar ele o melhor nome para comentar provas de ciclismo, mas de uma coisa não pode duvidar, ele é autêntico. E essa autenticidade, essa ausência de “mídia training” o faz um “boomer” na TV/Redes Sociais, que hoje são tão pasteurizadas.
Quem é Henrique Avancini
Henrique Avancini nasceu em Petrópolis no Rio de Janeiro (30/03/1989). Tido como um dos maiores nomes da história do ciclismo brasileiro, esteve por cinco temporadas entre os cinco melhores ciclistas de Mountain Bike do Mundo. Em 2020, ano da pandemia, Avancini liderou o Ranking de MTB XCO, tendo vencido uma etapa da Copa do Mundo de MTB XCO e uma de MTB XCC. Avancini competiu pela equipe de fábrica da Cannondale entre 2015 e 2022. Principais títulos:
- Bicampeão mundial em MTB Maratona o XCM em 2018 e 2023.
- Vice Campeão Mundial em MTB XCO em 2021
- Duas vezes campeão pan-americano de MTB XCO 2015 e 2022.
- Vice Campeão nos Jogos Pan Americanos de MTB XCO em 2019
Desde 2015, Henrique Avancini iniciou o projeto da equipe Caloi Avancini Team que busca deixar um legado para o esporte e vem revelando ciclistas de padrão internacional.
Ciclismo Profissional x Ciclismo Elite
O que deveria ser uma celebração do ciclismo, acaba tornando-se uma rixa sem o menor sentido de existir. Enquanto o ciclismo de estrada é o único com status de profissional na entidade maior do esporte (atenção, não é o pelote que está dizendo, é a UCI que assim classifica), o MTB é a disciplina pra lá de mais praticada no Brasil e Henrique Avancini é importantíssimo para a difusão do MTB não só no Brasil como no mundo. Já o tradicional ciclismo conta com baixíssima audiência no Brasil, tão baixa a ponto da DSports, braço esportivo da DirecTV ignorar as provas que detém direitos de transmissão e nem no ar colocar a Strade Bianche ou Tirreno Adriatico. A informação que chegou para nós foi de que a DSports não pagou a taxa para retransmitir as provas italianas.
Ao contrário do futebol onde é enorme o degrau entre o esporte profissional (Futebol de Campo, sabe aquele praticado por Flamengo, Palmeiras…?) e o amador (Futebol de Areia, Futebol de Salão, Futebol Society). No ciclismo essa linha é mais tênue e em todo mundo atletas de diversas modalidades fazem cruzamentos entre categorias. Obviamente devido a audiência ser enorme na Europa, o ciclismo de estrada é não só o que melhor paga, mas também o que possui regras de salário.
Nas demais modalidades (posso escrever XPTO? Acho que não…), existem atletas que recebem salário e atletas que disputam por amor ao esporte mesmo na categoria Elite (a mais alta). Então quando Mathieu van der Poel (que tem salário na casa de 3 milhões de euros ) disputa uma prova de cyclo-cross, ele pode estar disputando contra um estudante de medicina ou contra o caixa do supermercado, o mesmo acontece no MTB, na Pista, no BMX. No ciclismo profissional isso não acontece, existem regras rígidas e a partir do nível “PRO”, as provas são exclusivas para quem faz parte de uma equipe que paga salários, tem médicos, seguro contra acidentes e sindicato.
Isso torna “menores” os feitos de Henrique Avancini? Não, de modo nenhum. O que deveria ter sido destacado é apenas que no MTB o título principal da modalidade é o XCO ou Cross-Country Olímpico.
História dos Mundiais de Ciclismo
Se você pensa que o mundial de ciclismo começou na estrada, é um erro. Como as estradas eram para carroças no século XIX, as primeiras disputas de ciclismo eram em ambientes controlados, os Velódromos. Assim em 1893 aconteceu o primeiro mundial de ciclismo de pista em Chicago, ainda sobre a International Cycling Association, entidade que precedeu a própria UCI, criada em 1900.
O primeiro mundial de ciclismo ainda não separava profissionais de amadores e foi disputado em 1921, a disputa foi realizada até 1995 quando foi extinta. Para profissionais foi em 1927 que a UCI realizou o primeiro campeonato mundial de ciclismo em Nurburgring na Alemanha, tendo sido paralisado entre 1939 e 1945 em função da II Guerra Mundial. As mulheres passaram a disputar a prova em 1958. O contrarrelógio individual passou a ser disputado em 1994.
No MTB o primeiro mundial foi realizado em 1990 em Durango nos EUA com as disciplinas de Cross Country e Downhill. Em 2002 o revezamento por equipes foi introduzido enquanto em 2003 foi a vez da Maratona. Em 2012 a corrida de eliminação aconteceu pela primeira vez.
A camisa Arco-Íris cujas cores representam os continentes assim como na bandeira dos jogos olímpicos é a mesma desde 1927. A única restrição existente para uso da camisa arco-íris é que ela só pode ser utilizada em eventos oficiais pelo atual campeão mundial da modalidade. Ou seja o campeão mundial de MTB Maratona, Henrique Avancini, só pode utilizar sua camisa de campeão mundial em eventos de Maratona e somente até acontecer o campeonato mundial de 2024. O mesmo vale para Mathieu van der Poel, atual campeão de estrada. Por exemplo em uma prova de uma semana com prova de contrarrelógio individual, Mathieu van der Poel não pode largar com a camisa arco-íris na prova de contrarrelógio, visto que o campeão mundial dessa modalidade é Remco Evenepoel.