Sempre que a temporada de ciclismo de estrada termina, começa a temporada de cyclo-cross ou simplesmente “Cross” para os europeus. Graças a popularidade de Mathieu Van der Poel e Wout van Aert, a disciplina que mistura MTB com speed ganhou popularidade também no Brasil.
Hoje o papo no Pelote Ciclismo é o CX! Onde surgiu, quando acontecem as grandes provas, quem são os grandes ciclistas e porquê você não deve perder a temporada de cyclo-cross, CX, ciclocrosse (como é chamado em Portugal) ou simplesmente Cross!
A bicicleta do cyclo-cross!
Quem olha a bicicleta de CX ao lado de uma bicicleta de estrada vai notar duas diferenças principais: guidão com maior ângulo lateral (Flare), utilizado para uma pegada mais apropriada para pedalar em pé em superfícies ruins e os pneus maiores e maior espaço no quadro para um pedaço de pedra ou naco de lama não travar no quadro. Outra diferença fundamental é que o quadro de CX possui uma abertura para permitir encaixar melhor no ombro do ciclista durante os trechos a pé.
Na relação, o uso de pedivela de coroa única ou relação reduzida é adotado já que as subidas são muito íngremes. A semelhança com a bicicleta de gravel não é pouca. Em prova a principal diferença entre a bicicleta de gravel e a de CX é o tamanho dos pneus, que é limitado a 32mm por regra UCI para o CX.
Já nas pequenas diferenças, a bicicleta de CX difere da Gravel no conforto. Como a disciplina de Gravel é baseada no endurance de longa duração com provas de até 180km e também no cicloturismo, a bicicleta é menos arisca que a de CX.
Ai você pode perguntar por quê não utilizar guidões retos como os de MTB? A regra estabelecida pela UCI determina que o guidão de cyclo-cross deve ter no máximo 50cm de largura, o que inviabiliza os guidões retos.
História do cyclo-cross
Os historiadores datam do começo do século 20 as primeiras disputas de cyclo-cross. Uma das histórias mais bem documentadas é a do militar francês Daniel Gousseau que organizou a primeira disputa nacional de cyclo-cross em seu país no ano de 1902. Em 1910 Octave Lapize venceu o Tour de France e creditou a performance a seu treinamento no cyclo-cross. E isso motivou o crescimento da disciplina na Europa.
A ideia da disciplina passa também pelas dificuldades do inverno no continente europeu, onde no começo do século 20 as estradas estavam constantemente interrompidas pela neve e lama proveninente das carroças levando abastecimento para as cidades. Com isso a forma mais rápida de acesso para os mensageiros de bicicleta era saltar cercas, subir colinas e percorrer trechos no meio de plantações para “cortar caminho”, e então o “cross” surgiu.
A União Ciclística Internacional, a “UCI” passou a organizar o mundial da disciplina em 1950. Erik De Vlaeminck é o maior vencedor no cyclo-cross na história com 7 mundiais. Entre os ciclistas em atividade, Mathieu Van der Poel tem 4 títulos enquanto Wout Van Aert e Zdnek Stybar 3 cada um.
As disputas sempre tem programação em torno de uma hora de duração para a elite e tempos um pouco menores para as categorias de base e masters. Com grande intensidade, a tática é mínima na prova e o posicionamento crucial para uma melhor performance.
O circuito do cylo-cross
O circuito típico de cross costuma ter algumas características básicas:
- Distância entre 2,5km e 3,5km
- Mais de uma superfície como terra, areia, grama, cascalho e asfalto.
- Barreiras (pranchas para serem saltadas)
- Escadaria
- Talude (trecho com inclinação lateral acentuada)
- Subida
- Área de box
Se você acompanha o brasileiro Henrique Avancini no MTB XCO, vai notar muita similaridade nos percursos, até pelo fato do formato ser bastante parecido. A prova começa com uma volta mais curta que normalmente evita trechos de single-track, assim como no XCO. Por regra o circuito deve permitir que em 90% de sua extensão se pedale a bicicleta, mas na prática e com chuva, lama e as vezes neve, as provas costumam ter 40% de sua duração com os ciclistas carregando a bicicleta.
Principais provas do CX
A prova mais importante do CX é o campeonato mundial que em 2022 será disputado em Fayetteville no estado do Arkansas nos EUA. A Copa do Mundo de CX foi criada em 1993, entre os ciclistas vencedores estão Adrie Van der Poel (pai de Mathieu), Sven Nys que é considerado o maior ciclista da modalidade neste século com 6 copas do mundo, Wout Van Aert e Mathieu Van der Poel.
Com 16 nessa temporada (uma cancelada) provas a Copa do Mundo percorre 6 países em dois continentes com 3 provas nos EUA e as demais dividudas entre Bélgica, Países Baixos, França, Itália e República Checa. Já com oito provas, a Superprestige é uma série com provas apenas na Bélgica e Países Baixos realizada desde 1982 e vencida 13 vezes por Sven Nys e 4 vezes por Mathieu Van der Poel. A terceira série de provas com maior destaque é atualmente conhecida por X²O Badkamers Trophy, vencida 9 vezes por Sven Nys e 3 vezes por Wout Van Aert.
A transmissão das provas da Copa do Mundo tem sido aberta pela UCI para o Brasil, o que facilita ao público assistir pelo canais da UCI no Facebook e Youtube. Enquanto as demais provas só estão disponíveis para assinantes da GCN ou utilizando aplicativo VPN para assistir diretamente nos canais da Sporza e RTBE (TV pública belga).
O Cyclo-cross no Brasil
A modalidade ainda não tem disputas oficiais no Brasil. Como nos EUA e Europa é possível adaptar com um pouco de trabalho as pistas de MTB XCO para a disputa de CX. Fica a torcida para que nos próximos anos o mundo da bike no Brasil expanda para essa fronteira suja, arenosa e com muita adrenalina que é o cyclo-cross, cross ou CX!