Todo ano os ciclistas e equipes traçam seus objetivos sempre tendo o Tour de France como plano principal. Se o ciclista não vai para o Tour, ele vai para o Giro e vice-versa. O ano de 2021 foi ainda mais atípico com os jogos olímpicos. Assim a Vuelta ficou em quarto plano para muitos.
Primoz Roglic – Dominante!
Se o azar de uma queda tirou Roglic e a Jumbo Visma da briga no Tour de France, na Vuelta a história foi outra. Roglic, ainda que tecnicamente com uma equipe menos forte do que no Tour, simplesmente sobrou na Vuelta. O esloveno de 31 anos venceu quatro etapas e terminou a Vuelta com quase cinco minutos de vantagem para o segundo colocado, o espanhol Enric Mas.
A vitória acachapante teve também o excelente trabalho da Jumbo Visma que em nenhum momento desviou o foco do título. Nada de queimar etapas com ciclistas na fuga ou luta por vitórias isoladas. Tudo foi meticulosamente seguido a risca para permitir que Roglic vencesse pela terceira vez a Vuelta. Ouvimos bem menos os nomes de Sepp Kuss, Steven Kruijswijk e Sam OOmen durante a Vuelta, mas seu trabalho foi fundamental e os três dentro do Top20 final.
Roglic agora deve disputar apenas mais duas provas na temporada, o Giro dell’Emília e a monumento Il Lombarida, mesmo o mundial nos Flandres foi deixado de lado. Fica a torcida para que Roglic consiga repetir no Tour ou no Giro de 2022 a performance da Vuelta.
Jakobsen o campeão da vida e por pontos
Quando Jakobsen surgiu na lista de ciclistas que disputaria a Vuelta, ficou para alguns a sensação de prêmio para aquele que sofreu mas não ao desempenho. Após três vitórias e dois segundos lugares, Jakobsen provou que está novamente em alto nível, ainda que apenas poder competir no ciclismo já seja uma vitória enorme para quem um ano atrás quase perdeu a vida. Toda a equipe Deceuninck Quick Step cruzando a chegada em último na penúltima etapa para garantir que Jakobsen não ficasse fora do tempo limite foi um dos momentos que o fã do ciclismo pode dizer: é por isso que amo o ciclismo.
Michael Storer e a DSM
Durante a temporada muitos brincaram com a DSM sendo uma equipe de nível continental no WorldTour. A conquista da camisa de montanha por Michael Storer com direito a duas etapas recolocou a equipe em destaque. Trabalho ótimo também de Romain Bardet, o francês renegado da Ag2r agora na DSM venceu uma etapa e foi vice campeão na camisa de rei da montanha.
Jack Haig, Gino Mader e a Bahrain
A equipe Bahrain foi provavelmente a que mais surpreendeu na temporada em termos de desempenho. Tanto que foi a “equipe da vez” a ser visitada pelo comissário de Marsellha durante o Tour de France que anualmente “dá uma geral” em uma equipe de ciclismo buscando doping. Não encontraram nada, mas se olhassem bem viriam que a equipe enfim se encontrou. Misturando a experiência de Damiano Caruso com a juventude de Gino Mader, Mark Padun e Jack Haig, a equipe bareinita foi figura presente nas fugas, ataques e disputas na Vuelta. O pódio na Vuelta, reflete esse momento de crescimento da equipe.
Entre os jovens até 25 anos, o suíço Gino Mader foi o melhor, suplantando o favoritismo do colombiano Egan Bernal. Mader trabalhou pelo resultado etapa a etapa e a virada veio na última etapa com subida, quando Bernal não conseguiu acompanhar o grupo perseguidor. Não será exagero algum apostar em Gino Mader para vitória em uma volta de uma semana em 2022.
EF Nippo
Se tem uma equipe em que o clima é de festa, o tempo todo é a Ef Nippo. E toda essa festa não tirou o objetivo de desempenhar um papel na Vuelta. E desde sua contratação a peso de ouro em 2019 junto a Astana, o dinamarquês Magnus Cort nunca entregou tanto. Foram três vitórias em etapas, um segundo lugar no contrarrelógio individual e diversos dias na fuga ou em ataques.
Usualmente o prêmio de ciclista mais combativo é dado a um ciclista espanhol, mas dessa vez foi incontestável que Magnus Cort foi o ciclista mais combativo da Vuelta!
El dia menos pensado – Movistar
A equipe Movistar nunca decepciona! Um dos maiores orçamentos do ciclismo na equipe mais antiga em atividade, é como a Ferrari ter um jejum de vitórias. E desde 2016 a Movistar não ganha agrande volta espanhola. Ao menos virou série da Netflix. Superman López venceu uma etapa épica no Altu d’El Gamoniteru, mas…
Claramente dividida entre buscar vitórias isoladas para seu ídolo Alejandro Valverde e escolher quem e como disputa a classificação geral, a Movistar erra sempre. Como errou ao dizer para Miguel Ángel López “esperar” e não seguir seu companheiro durante um ataque na etapa 20. Se por um lado o ataque não permitiu que Enric Mas vencesse ou diminuísse a vantagem de Roglic, por outro manter López atrás garantiu que o colombiano perdesse o pódio. Vendo o pódio escapar-lhe das mãos, Superman López parecia envolto em criptonita, ao sentar-se a beira da estrada desolado e abandonar a Vuelta.
Para 2022, uma certeza a Movistar garante, a presença do veterano Alejandro Valverde, treinando e renovado e para nós fica a torcida por mais uma temporada da série da Netflix.