Ontem o fã de ciclismo pôde vibrar com a vitória de um brasileiro. Você já sabe, Henrique Avancini venceu uma etapa da Copa do Mundo de MTB XCO, o cross country olímpico. Mas o que isso realmente significa para o ciclismo e o esporte brasileiro?
Para compreender a importância dessa vitória, voltamos no tempo, a Copa do Mundo nasceu nos anos 90, tendo sido vencida por nomes como Ned Overend e John Tomac, os criadores da modalidade todo terreno, o Mountain Bike. De lá para cá dois ciclistas se sobressaiam e todo fã de esporte discute quem é o GOAT (acrônimo de Greatest of all time, o melhor de todos os tempos), Julien Absalon e Nino Schurter.
Nesses trinta anos de MTB apenas um brasileiro subiu ao pódio, justamente Henrique Avancini ano passado. Claro que para chegar nesse olimpo o ciclista natural de Petrópolis no Rio de Janeiro teve um longo e vitorioso caminho. Sete vezes campeão brasileiro, três vezes campeão pan-americano no MTB e campeão mundial na maratona chamada XCM.
A importância de Avancini para o Ciclismo Brasileiro
Em uma era que o ciclismo, especialmente na estrada nunca viveu um tempo tão ruim, a vitória de Avancini afasta um pouco aquele sentimento de vira lata. O sentimento do fã, que sabe vive num país onde a bicicleta movimenta bilhões de reais e mesmo assim o ciclismo profissional não tem sequer uma prova UCI na temporada. Essa vitória é um prêmio não só para Avancini, mas também para todo mundo do MTB brasileiro em que organizadores de prova lutam dia a dia para poder oferecer eventos e cultivar atletas para o futuro.
Avancini superou um dos ciclistas que é considerado um dos melhores de todos os tempos na modalidade! Isso é motivo de sobra pra gritar, comemorar, e chorar.
Fica dessa vitória a esperança de renascimento do ciclismo. Que novos Henriques, surjam como tivemos na estrada o saudoso Argenton, Antonio Silvestre, Mauro Ribeiro Cássio Paiva, Luciano Pagliarini e Murilo Fischer. Irá Avancini na modalidade “patinho feio” superar os ciclistas de estrada? Há quem diga que já superou. Mas aqui não vamos falar de uma rivalidade, talvez de uma certeza… Quem sabe em Tóquio? Quem sabe em Tóquio!
Copa do mundo de MTB: Obsessão!
De 2016 para cá Avancini focou no XCO, mais precisamente na Copa do Mundo, os frutos começaram a vir com uma melhora progressiva. A primeira vitória, no XCC (Cross Country Short Track) e pódios no XCO conferiram a Avancini o ranking de segundo melhor ciclista de cross country, atrás somente da lenda Nino Schurter em 2018 e 2019.
Veio então a pandemia, muito treino, reflexão e um calendário que eliminou a maioria das etapas da Copa do Mundo de MTB, ficando apenas a rodada dupla em Nové Mesto na República Checa. Na primeira rodada uma escorregada com 12º lugar no circuito curto, que é classificatório e no XCO um quinto lugar dolorido, sendo batido sobre a linha por Schurter.
Para, pensa, coloca a cabeça no lugar e… duas provas perfeitas! Primeiro no XCC, Avancini usou a paciência para não se desgastar tentando escapar solo ou puxando o pelote, saiu como uma moto no sinuoso e perigoso trecho de alta velocidade para com um sprint longo e preciso vencer. Não há muito tempo para comemorações, a pedra no sapato é a prova na distância olímpica.
“É um terreno de alto nível e todo mundo estava preparado para isso, então, não é fácil, talvez, mais difícil do que nunca competir nesta situação. Em toda a corrida, eu respondi aos ataques, fiz alguns movimentos, vi a corrida de frente e estou muito, muito feliz com essa vitória”, afirmou Henrique Avancini, após a corrida de XCC
A Vitória tão sonhada
A tensão entre os fãs, qual seria a estratégia de Avancini? Saltar na frente, liderar solo e sofrer ataque no final seria doloroso, ter potência de sobra mas ficar represado atrás de adversários um risco e tanto em um circuito de difícil ultrapassagem. Avancini ficou sempre no grupo líder, aos poucos o grupo foi ficando selecionado até que restavam apenas três ciclistas na ponta, o suíço Schurter, brasileiro Avancini e o holandês Milan Vader.
O primeiro ataque veio de Vader, com Henrique ficando um pouco atrás e precisando atacar a descida para conseguir alcançar a dupla. Veio então a decisão chave, no único trecho em que a subida tinha duas trilhas, Vader e Schurter foram pelo “melhor caminho” e Avancini pode escolher o trecho sem adversários. Lançou então o ataque que seria vencedor. Avancini saiu do trecho a frente e respirou no trecho fluído onde a ultrapassagem é mais difícil. A escolha de segurar o ritmo foi fundamental para poder escolher o ponto onde acelerar. Foram dois minutos na ponta da última volta para vencer e escrever seu nome na história do Mountain Bike.
“Minha primeira vitória na Copa do Mundo foi muito especial, fiquei muito feliz por ter vencido a prova de XCC e XCO, sou o segundo atleta a conseguir o feito (depois do Mathieu Van der Poel), num ano que o calendário foi muito mais concentrado em que todos os atletas se prepararam para um único período de competição. Isso subiu muito o nível das provas”, comenta Avancini,
O replay da prova você assiste na RedBull TV clicando aqui.