Lance (Fênix) Armstrong

Ainda reverbera em mim as ondas de choque causadas pelo recente documentário da ESPN sobre o Lance Armstrong. Há entre ele e a lenda da Fênix uma certa mútua obsessão. É sobre isso que irei falar neste post.


Às Cinzas e Suas Referências

Ame-o ou odeie-o, você – amante do ciclismo, não consegue passar indiferente por uma conversa sobre ele. Quando tio Lance atingia seu auge, eu estava muito ocupado para prestar atenção ao que estava rolando no Tour de France, mas comentávamos sobre o quanto o pelotão andava nas etapas e o nível do veneno que estavam tomando. Outra coisa que comentávamos era até quando as agências anti-doping iriam estar anos-luz atrás dos atletas (Figura 1). Desculpem-me não vai ser isso que vou falar sobre ele.

Figura 1 – Tio Lance (centro) em ótima companhia [1]
Eu estava em um congresso na cidade de Austin, quando meu amigo Fábio Monjardim me mandou um zapzap: “Cara, se você não for na Mellow Johnny’s, eu te mato quando você voltar!”. A cidade de Austin transpira o ciclismo. E por consequência, a desgraça de Lance Armstrong. Ainda quando a visitei, o escândalo de sua confissão estava bem recente. Hoje eu consigo entender um pouco mais a sua ascensão e queda.

Os negócios de Armstrong sempre tiveram nomes marcantes e com um sentido. A sua bike shop em Austin – Texas tem um nome bem sugestivo: Mellow Johnny’s (Figura 2). Uma forma de trazer para o inglês, a fonética de Maillot jaune (camisa amarela). Dentro da loja, há um café chamado Juan Pelota (Figura 3). Novamente, outra forte referência ao que a vida lhe tirou. Na língua da cidade que lhe idolatrou e depois o lançou ao ostracismo, pode ser traduzido como “uma bola”. Claro, há fortes referências aos títulos tirados pela UCI em todas as paredes (Figura 4).

A Mellow Johnny’s

Eu estive nessa loja em 2015. Tenho um acervo de fotos de lá. É uma loja incrível (Figuras 5-7)! Claro que cheia de referências ao dono e suas conquistas, mas a atmosfera é muito massa! As pessoas são totalmente conectadas com o esporte, extremamente treinadas, deixam você à vontade para circular, mexer e curtir as coisas de lá. A loja não se limita à venda de bicicletas e acessórios. Ela se torna o ponto de encontro na partida e da chegada. Tem um centro de treinamento e para ser sincero, Austin é a cidade com as melhores bike shops que já tive oportunidade de visitar. Foi nessa cidade que conheci o Nelo, mas não irei contar sua história hoje.

Figura 2 – Mellow Johnny’s and Juan Pelota Café (Arquivo Pessoal)

 

Figura 3 – Mellow Johnny’s and Juan Pelota Café (Arquivo Pessoal)

 

Figura 4 – Mellow Johnny’s and Juan Pelota Café (Arquivo Pessoal)

 

Figura 5 – Mellow Johnny’s and Juan Pelota Café (Arquivo Pessoal)

 

Figura 6 – Mellow Johnny’s and Juan Pelota Café (Arquivo Pessoal)

 

Figura 7 – Mellow Johnny’s and Juan Pelota Café (Arquivo Pessoal)

Forward and Uphill

Lance Armstrong é um dos melhores podcasters que se pode encontrar na rede na atualidade. De certa forma, ele consegue trazer um sentido poético à sua desgraça, mas tudo o que faz, é com maestria. Uma das sessões do seu portal (Wedu) chama-se The Forward. No Forward, tio Lance convida pessoas, que como ele, chegaram ao fundo do poço. À uma situação de não-opção, de desgraça, de crise e seguiram com seus erros e acertos e estão se reconstruindo. Um dos capítulos mais interessantes é quando a Mia Khalifa (ela mesma) é instigada a falar sobre ela mesma (Figura 8).

Figura 8 – Armstrong and Khalifa conversam sobre seu passado e seu futuro em 2018. [2]
E é nesse ponto que eu quero chamar a sua atenção. As tentativas de Lance Armstrong em se reconstruir. Assista com carinho a sua análise, nada imparcial, dos estágios marcantes de suas sete vitórias. É uma aula como o ciclismo é jogado dentro do pelotão. Poucas vezes ouví confissões como as que são feitas no The Move, sobre o épico estágio 10 do Tour de France no L’Alpe d’Huez em 2001. Assista ao vídeo que vale cada minuto (Vídeo 1).

Vídeo 1 – The Move fala sobre o estágio 10 do Tour de France em 2001. [3]

E se você acha que ele ainda é um grandíssimo F.D.P., lamento informar que até mesmo os F.D.P.s conseguem ter bons amigos. E isso é notável! Hincapie, serviu sua cabeça a USADA e eu ainda me pergunto como continuam tão amigos. Eu mesmo respondo com ajuda de Shakespeare: “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”.

E é exatamente isso que eu espero. Um ídolo caído, que como Ícaro, voou mais alto que deveria em sua arrogância e vilania. Assim como a Fênix, Armstrong está renascendo. Cedo afirmar se essa versão será melhor que as outras, mas eu apostaria minhas fichas que sim.

Como sempre, obrigado por nos prestigiar com sua leitura. Grande abraço!

Referências

[1] France, A., 2020. Armstrong To Race In 2005 Tour De France. [online] RTE.ie. Available at: <https://www.rte.ie/sport/cycling/2005/0216/190067-armstrong/> [Accessed 21 July 2020].

[2] O Globo. 2020. Lance Armstrong Entrevista Mia Khalifa, A Libanesa Que Deixou O Pornô. [online] Available at: <https://oglobo.globo.com/esportes/lance-armstrong-entrevista-mia-khalifa-libanesa-que-deixou-porno-22454959> [Accessed 22 July 2020].

[3] The Move (Wedu), 2020. The Best Of The Blue Train-2001 L’alpe D’huez. [image] Available at: <https://youtu.be/4oqk0BPDB7k> [Accessed 22 July 2020].

 


Sobre o autor

Pedro Anselmo Filho, Ph.D. é engenheiro mecânico e professor, com doutorado em combustão pela Universidade de Cambridge e mestrado em energia aplicada pela Universidade de Cranfield. Leciona para os cursos de Engenharia Mecânica e Automação e Controle da Universidade de Pernambuco (UPE) e nos cursos avançados da Escola Americana do Recife. Pedala sem rodinhas desde os 4 anos e ciclista entusiasta que gosta muito de estudar sobre potência. Seu email para contato é pedro.anselmo.filho@gmail.com e clique aqui para ter acesso ao seu Strava.

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