UCI começa reorganizar o calendário de ciclismo profissional

Luiz Papillon
Vuelta com 18 etapas, Ronde em meio ao Giro e Liège Bastogne Liège em novembro. A luta por datas no calendário pós pandemia movimenta os bastidores do ciclismo profissional.

Quase 600 provas de ciclismo distribuídas em três meses ao invés de oito. Esse é o princípio do desafio que a União Ciclística Internacional está gerenciando. A entidade máxima do ciclismo promete até 15 de maio divulgar o calendário atualizado. No entanto os organizadores seguem em um jogo de xadrez para conseguir realizar o maior número de provas.

UCI mantém data prevista para o Mundial

Após a divulgação da nova data do Tour de France, as reações começaram. A primeira sobreposição de datas acontece com o campeonato mundial de ciclismo em Aigle cuja prova de contra relógio ocorrerá no mesmo dia da chegada do Tour de France em Paris, 20 de setembro.

“É ridículo que o campeonato mundial de contra relógio coincida com a final do Tour. Na Jumbo você tem Kurijswijk, Roglic, Dumoulin, na Ineos Froome, Thomas, alguns ciclistas muito fortes que estarão no Tour. Nós temos Remco, agora suponha que ele vença, você ainda ouvirá que a lista de participantes não estava completa e os melhores não estavam lá.” declarou Patrick Lefevere, diretor da equipe Deceuninck Quick Step.

O belga segue disparando contra a organização do mundial “Eu não entendo de modo algum que eles queiram manter o revezamento misto na quarta feira (23/09). Eles querem fazer algo disso mas é uma criança natimorta.” A leitura que faço dessa crítica é que Lefevere preferia que a prova de contra relógio individual (CRI) fosse disputada na quarta feira ao invés da prova de revezamento.

Dirigentes do Giro rechaçam encurtamento da prova

Os franceses da Amaury Sport Organization (A.S.O) acenam com o encurtamento da Vuelta para 18 etapas, onde as três etapas holandesas seriam canceladas e ao invés de três dias de descanso, apenas um. A sugestão dos franceses também recairia sobre o Giro, contudo obviamente os dirigentes da RCS (organizadora do Giro) não querem nem saber de mudanças.

Mauro Vegni, diretor da RCS e Giro d’Italia | Foto Divulgação Giro d’Italia

“Nos últimos dois meses houve apenas conversas para encurtar o Giro, os franceses declararam abertamente que encurtariam o Giro de quatro para três finais de semana com objetivo de ganhar mais datas no calendário. Temos que defender nossa prova!” Disse Mauro Vegni, diretor do Giro d’Italia.

Para emissora RAI, Vegni declarou que espera realizar o Giro entre 3 e 25 de outubro, porém com traçado diferente. A largada provavelmente mudará de Budapeste (Hungria) para a Itália. Tudo devido as diferentes medidas sanitárias em cada país. “Estamos trabalhando em alternativas sempre em consulta a UCI.” Finalizou o dirigente.

Maior ciclista de todos os tempos e pentacampeão do Giro, Eddy Merckx também comentou:

“Estou convencido que um verdadeiro Giro deve durar três semanas com 21 etapas. É assim que grandes voltas aparecem na tradição do ciclismo. Agora estão tentando encaixar todas as provas em três meses, não terão sucesso.”

UCI busca encaixar as 4 monumentos no calendário

Uma reação em cadeia ocorre após a definição da data do Tour de France, desencadeando a luta por datas entre os organizadores. E não só as grandes voltas entram na conta, as monumentos devem ser disputadas em uma ordem diferente da original. Começando pela Milão Sanremo ainda em agosto, com a Ronde e Roubaix acontecendo durante o Giro e Liège Bastogne Liège realizada em novembro no mesmo dia que a última etapa da Vuelta.

Tomas Van den Spiegel – Diretor da Flanders Classics | Foto Wouter Van Vooren

“Tudo é muito preliminar e isso ainda pode dar completamente errado. Afinal temos muitas reuniões na agenda até que o calendário seja realmente finalizado.” Comentou o diretor da Flanders Classics Tomas Van den Spiegel ao Sporza.

Certamente haverão clássicas que acontecerão durante as grandes voltas, não tenho problema quanto a isso. Não cabe a nós dizer o que precisa ser feito. Estamos realizando reuniões com todos os envolvidos. O consenso é a solução embora isso nem sempre seja evidente no ciclismo. Além disso você pode estar hipotecando muitos elementos ao escolher unilateralmente uma data.” Finalizou o dirigente.

 

Calendário estimado em acordo com a La Gazzetta dello Sport:

 

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