O positivo de Kacio Freitas e uma reflexão

Esperei alguns dias para escrever esse texto. Durante a última semana, ficamos sabendo do boato acerca do positivo do ciclista Kacio Freitas durante o Panamericano de Lima no Peru. Na última quarta feira em sua página no facebook o ciclista comentou o ocorrido:

Kacio Freitas foi medalhista de bronze na velocidade por equipes juntamente com Flávio Cipriano e João Vitor da Silva. O atleta se antecipou a uma divulgação oficial acerca do exame. Contudo não sabemos ainda a substância em flagrada na urina de Kacio tanto na amostra A como na amostra B. Pela narrativa do ciclista, entendo que quando Kacio soube do positivo, solicitou não só a análise da amostra B como também nova coleta e análise de sangue e urina. Todo esse procedimento é necessário para entender e posicionar o leitor acerca da gravidade do fato. Qualquer posicionamento é na base da especulação. Ainda não temos o dia exato da coleta e tampouco a substância encontrada.

Possíveis sanções e instâncias de defesa

Uma sanção com perda da medalha de bronze é possível e depende especificamente da data da coleta do positivo. Caso a coleta seja nos dias após a medalha e não no dia da medalha, possivelmente a medalha seja mantida. Caso seja no dia da medalha e anterior, existe a possibilidade de perca da medalha por toda equipe. Kacio mostrou-se de forma surpreendente colaborativo em relação ao assunto, usualmente o atleta segura ao máximo a informação até a comunicação oficial. Kacio ao que tudo indica seguirá se defendendo do caso, apelando inicialmente ao STJD brasileiro e em segunda instância ao tribunal do CAS na Suíça. Todo esse processo envolve uma soma expressiva de recursos financeiros para defesa. Ou seja, quem o faz é por real esperança na absolvição ou redução da possível pena.

As possíveis sanções dependem especificamente da substância encontrada na urina do atleta. Pode partir desde uma advertência até a suspensão por 4 anos com perca de resultados. Obviamente o apontamento do próprio atleta indica que existe uma possibilidade iminente de sanção.

O ciclismo brasileiro precisa livrar-se do estigma do doping

Durante a abertura da ShimanoFest em São Paulo, conversei com o vice-presidente para o setor de bicicletas da Abraciclo (associação que engloba os fabricantes de bicicleta na Zona Franca de Manaus).

“O investimento no ciclismo é direcionado ao MTB pelo maior controle de dopagem. Na estrada há a questão do doping e é preciso um esforço para que voltemos ao desenvolvimento da categoria” Cyro Gazolla, vice presidente para o setor de bicicletas da Abraciclo

Por conta desse estigma temos na estrada e agora na pista o grave problema da falta de patrocínio. A CBC mudou de posicionamento e atuação após a vexaminosa exposição causada pela Brasil Procycling durante 2017 quando a equipe paulista foi Profissional Continental e teve uma série de ciclistas sancionados por doping. O ciclismo tem na estrada metade dos suspensos por doping embora com número de participantes (federados) muito menor que no MTB.

 

Não há atalhos, é preciso mais Velódromos, mais provas e maior investimento

O doping é um atalho, um atalho perigoso e que tem como único prejudicado o ciclista. Quando um atleta cai no doping o mundo ao seu redor desaba, todos contratos de publicidade são cancelados. Equipe, outros ciclistas são obrigados a distanciar-se. E porquê com tudo isso o ciclista ainda recorre a essa alternativa? Essa é uma resposta que somente cada envolvido pode dar. O que do lado do sofá posso dizer é que definitivamente não é o caminho.

É preciso não só mais velódromos é preciso manter os velódromos ativos recebendo desde crianças até masters. É preciso que tenhamos mais provas  e provas com qualidade tanto na pista como na estrada. Vivemos quase vinte anos de provas de circuito que na prática não formam ciclistas para desafios reais. Nossos maiores expoentes nos últimos anos vem de iniciativas individuais e familiares que levam o ciclista para competir e treinar fora do Brasil.

Aqui de coração desejo que Kacio consiga se defender e prove que houve algum equívoco ou ato involuntário. Porém se o pior for comprovado, apenas lamentarei. Não só a possível perda de uma medalha de Panamericano, mas principalmente que o ciclismo perca um possível exemplo. Exemplo como perseguimos o ouro em Panamericano que remonta aos anos 60 com o saudoso Anésio Argenton.

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