Omloop feminina interrompida, um erro crasso da organização!

Saiu na grande mídia, UOL, Globoesporte e mesmo meios internacionais noticiaram o fato da Omloop Het Nieuwsblad ter interrompido a prova feminina. O risco da escapada alcançar o final do pelote masculino, foi encarado como uma ameaça ao resultado da prova pois daria a corredora uma vantagem desleal. Mas por outro lado a interrupção interrompeu a ciclista Nicole Hanselmann. Comentei o fato praticamente ao vivo via twitter e instagram.

Nicole Hanselmann – Instagram

O erro da organização e Nicole que não tinha nada com isso!

Quem errou ai foi a organização. Devido a proximidade da cidade de Ninove com Bruxelas, interromper o tráfego de automóveis é um problema, e assim tudo foi calculado para a menor interrupção possível. Por exemplo, em São Paulo a clássica 9 de julho tem largada com vinte minutos de intervalo entre a categoria masculina e a feminina. A Omloop optou por deixar dez minutos entre cada prova, até ai tudo bem, porém a Omloop feminina teria um trajeto muito menor. Enquanto a prova masculina teria 200km, a prova feminina teve apenas. Essa diferença no ciclismo profissional gera duas provas completamente distintas! E foi exatamente isso que aconteceu.

Enquanto os homens largaram poupando energia para os 80km finais as mulheres teriam apenas 30km antes das subidas, assim as fugas deveriam ser controladas rapidamente ou banzai. Nicole Hasselman da Bigla Pro Cycling atacou solo, abrindo dois minutos do pelote feminino que esticou e passou a persegui-la. Do sétimo quilômetro de prova ao trigésimo ela conseguiu dois minutos de vantagem. Se alcançasse o final do pelotão masculino ela tiraria vantagem ilegal do vácuo proporcionado pelos veículos da organização (ambulâncias, carro de apoio e só depois os ciclistas propriamente ditos). A organização optou por utilizar uma passagem de nível para reter a prova. A diferença de Nicole para o grupo não foi neutralizada. Porém o esforço que a ciclista fez para ficar a frente nesse início de prova a impediu de sequer acompanhar o grupo líder mesmo após a parada.

Nicole foi prejudicada? Poderia vencer a prova? De modo algum!

Embora os meios tradicionais não especializados tratem o fato de uma ótica de preconceito sexista, não foi exatamente isso que aconteceu. O primeiro motivo da interrupção foi obviamente esportivo (a organização alegou segurança, outra bola fora). Você pode realmente considerar que após parar Nicole teve o ritmo quebrado, mas Nicole tinha para o restante de prova um trunfo enorme que foi poder descansar por 5 a 7 minutos. Porém Nicole pifou e chegou a 12:59 da vencedora aí já descontando os 2 minutos de vantagem que tinha antes da interrupção. Nicole Hasselman jamais ganharia essa prova escapada por 80km!

No momento da interrupção sua vantagem para o grupo já diminuíra pela metade. Na linguagem de prova Nicole Hasselman era um “coelho”, cuja função era dar emoção a prova e depois ficar para trás ou abandonar. A organização tem muito à aprender com o fato, mas a realidade é que Nicole teve uma grande ajuda para tentar vencer a prova que foram os 5 minutos de descanso.

Prova masculina seria interrompida em situação semelhante? Sem sombra de dúvidas!

Outra pergunta feita é o caso oposto, se a prova masculina poderia ter sido interrompida? Ora… isso já aconteceu por outros motivos. As provas por muitas vezes tem passagens de nível onde o pelote inteiro ou parte dele fica retido para a passagem de trem.  Na Paris Roubaix de 2015 um grupo de ciclistas “vazou” a cancela da passagem de nível colocando a própria integridade física em risco. O fato preocupou a UCI que para edição de 2016 não só estabeleceu regras duras como cumpriu eliminando ciclistas que furaram a passagem de nível na Scheldeprijs 2018. No caso da Scheldeprijs o grupo que ficou para trás “azar”, tiveram que remar para reconectar.

Reveja a polêmica Omloop Het Nieuwsblad e a vitória do checo Zednek Stybar:

 

http://www.pelote.com.br/stybar-da-deceuninck-vence-a-omloop-het-nieuwsblad/

E o ciclismo feminino?

O ciclismo feminino cresce e tem hoje um momento como nunca antes. Pela primeira vez um circuito mundial feminino é definido para início em 2020 e assim nascerá a primeira divisão do ciclismo feminino mundial com denominação Womans World Tour. Em 2020 serão 10 equipes, 2021 serão 15 e finalmente em 2022 serão 18 equipes como no masculino.  Abaixo o calendário do circuito mundial feminino 2019 que você acompanha aqui no pelote. No Brasil o ciclismo feminino possui essencialmente três equipes fortes, Memorial Ciclismo de Santos que esta em meio a receber o status de equipe continental a Funvic a equipe ABEC Rio Claro, Indaiatuba e Avaí que tem tradição no desenvolvimento de atletas do circuito feminino. A Memorial Ciclismo repetirá a viagem a Bélgica durante o auge da temporada europeia colocando as meninas para disputar provas contra os maiores nomes do ciclismo mundial e contará com o acompanhamento do Pelote Ciclismo.

2 thoughts on “Omloop feminina interrompida, um erro crasso da organização!

  1. Descanso ? Você pegar uma atleta que estava escapada e cortar o ritmo dela não é bem um descanso.
    Afirmar também que ela não ganharia escapada por 80km? Stephane Rossetto venceu uma etapa do tour de yorkshire sozinho numa fuga de 113 km ! por que ela não teria chances ?

    1. Augusto, fosse apenas cortar o ritmo ela (e a equipe) trabalhariam para que ela apenas comboiasse o pelote e ganhasse pois a vantagem de dois minutos foi mantida. Ela já havia perdido cinco dos sete minutos de vantagem que possuía, dai minha afirmação que não teria chance. E note, não estou defendendo a organização apenas estou constatando fatos lógicos. Amanhã e sexta teremos textos sobre o sexismo no ciclismo.

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