Direito do ciclista Paulista: Ser recebido com Tiro, Porrada e Bomba!

Luiz Papillon

O evento “Tradicional Descida para Santos” foi chamado via Facebook pela página “Direito de Pedalar“, grupos de ciclistas de toda Grande São Paulo partiram rumo a rota que deveria ser um direito do ciclista e foram recebidos pela força estatal com bomba tiro e porrada. O evento que acontece anualmente desde 2009 (leia mais abaixo o histórico) passou a ser “ilegal” perante as autoridades estaduais contando com a antipatia da concessionária Ecovias desde 2013, ano que o Instituto CicloBR deixou de organizar. Este ano a concessionária se adiantou e conseguiu uma liminar da justiça de São Bernardo do Campo impedindo o evento, com a proibição milhares de ciclistas foram barrados próximos à Interligação Anchieta-Imigrantes e aqueles que furaram o bloqueio foram contidos com bombas de gás lacrimogênio, gás de pimenta e balas de borracha.

Foto Recebida via grupo de Whatsapp – Bloqueio na Interligação Anchieta Imigrantes

A origem da descida anual envolve uma tragédia, a morte da ciclista Márcia Prado em 2009 e a criação da Rota Márcia Prado no ano seguinte com o trabalho do instituto CicloBr obtendo reconhecimento da prefeitura de São Paulo e inclusão do evento “Rota Márcia Prado” no calendário da cidade pelo então prefeito Gilberto Kassab.

Confira como foi a descida a Santos em 11 de dezembro de 2016:

Antes de falar sobre a Rota propriamente, vamos falar sobre quem foi Márcia Prado, ciclo-ativista e que participou ativamente do movimento Bicicletada em São Paulo, Márcia perdeu a vida em 16 de  janeiro de 2009 ao ser assassinada por um motorista de ônibus na avenida Paulista quando se deslocava para o trabalho, uma ghost bike foi fixada no local de sua morte.

A última ciclo viagem feita por Márcia era a conexão entre São Paulo e Santos num belíssimo trajeto que ficou conhecido como “Rota Márcia Prado”, o detalhamento da rota e todo trabalho para obter reconhecimento foi feito pelo instituto CicloBr e instituída pelo Prefeito Gilberto Kassab em 2010 como evento turístico da Cidade de São Paulo, a rota passa pelo bairro do Grajaú e duas balsas cruzando o bairro Ilha do Bororé (que não é uma ilha, mas por ser acessado por duas balsas assim ficou sendo chamado) e conectando a Santos pela estrada de manutenção da rodovia dos Imigrantes.

De 2009 a 2012 o instituto CicloBr organizou o evento “Rota Márcia Prado” para que em um dia no ano milhares de ciclistas pudessem descer a Santos pela Rota, porém a partir de 2013 – Leia aqui o histórico – o órgão regulador passou a endurecer as exigências e assim colocou ponto final no evento. Depois disso o evento passou a ser anualmente convocado sem anuência de autoridades via Facebook por diversos grupos e sempre esbarrou num bloqueio feito pela polícia militar rodoviária pedido pela Ecovias, a concessionária que administra o sistema Anchieta-Imigrantes e pelo qual a rota percorre 5km. O secretário estadual de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, Laurence Casagrande Lourenço não se manifestou.

O que pode ser notado é a mudança da relação entre ciclista e poder público, ano passado o mesmo evento encontrou bloqueio mas ocorreu, sem ninguém sair machucado, o que mudou em um ano? A relação entre o ciclista e o poder público.

Em 2016 após a eleição do prefeito João Doria o ciclista e a bicicleta passaram de uma solução para o trânsito caótico para inimigos do estado na capital da maior cidade brasileira, diversas medidas vem sendo tomadas ao longo de seu primeiro ano de mandato contrárias a política cicloviária da cidade instituída ainda em 2010 pelo então prefeito Gilberto Kassab e expandida pelo seu sucessor Fernando Haddad.

Tal descomprometimento com o ciclista dificilmente foi visto em outras cidades, um caso de destaque foi Rob Ford, prefeito de Toronto entre 2010 e 2014 que elegeu-se prometendo combater a bicicleta e após apagar algumas ciclovias e abrir mais espaço para automóveis não obteve o efeito esperado, teve seu plano viário rejeitado pela cidade e posteriormente a cidade de Toronto voltou a incentivar o uso da bicicleta.

Assim lembramos que por mais que alguns homens de mentes atrasadas lutem desesperadamente contra o progresso, ele é inevitável e o futuro das grandes cidades tem bicicleta por todo lado.

 

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