Eugene Christophe, o herói da forja!

Luiz Papillon

 

Você acredita em azar? Para nós do Pelote isso é puro misticismo, mas já que hoje é a primeira sexta feira 13 do ano, separamos uma história da era dos heróis do ciclismo, recusamos o título de maior azarado, mas sem dúvidas é um dos maiores “quase vencedores” do Tour de France.

Vamos falar sobre o heptacampeão francês de ciclocross, vencedor da Milan-San Remo Eugene Christophe é uma lenda, participou do Tour de France entre 1906 e 1925, soldado do pelotão de ciclistas francês na primeira guerra mundial, o pequeno francês de 1,62m tem o nome na história do ciclismo, seus longos bigodes no Tour de 1912 renderam o apelido Cri-cri que o acompanhou até o final da vida.

Começamos com a edição 1913 do Tour, Eugene Christophe vinha de um segundo lugar em 1912 e chegado em 1913 como um dos favoritos, a meio caminho do Tourmalet o então campeão Odile Defraye abandonou o que deu a Christophe uma liderança inexpugnável com o belga Phillippe Tys ao seu lado. E então um motorista descuidado o atingiu com um carro de corrida derrubando o francês na estrada, ele não se feriu mas seu garfo partiu em dois. Thys então partiu sozinho para a vitória na etapa e classificação geral.

Outros poderiam desistir e parar por ali, mas não Christophe, ele juntou os pedaços de sua bicicleta e continuou a pé, 13km depois em Sainte Marie de Campan ele encontrou uma forja, as regras da época não permitiam assistência externa então ele forjou um novo garfo, enquanto segurava o aço com uma mão e martelava com a outra, um garoto de sete anos de idade controlava o ar da caldeira, motivo que um dos fiscais de corrida impôs dez minutos de pena no tempo total. Reparo feito, Christophe abasteceu os bolsos com pão e seguiu para mais duas montanhas que o separavam de concluir a prova. Ele chegou três horas e cinquenta minutos após Thys. Um fato marcante levando tudo em consideração mas o Tour havia terminado. Em homenagem ao feito, em 1951 foi colocada uma placa no local, mais de 100 fanáticos o acompanharam, enquanto a rádio local narrava “Se alguém encontrar um pequeno francês carregando um garfo de bicicleta nas imediações de Saine Marie, ajudem-no pois é Eugene Christophe!”

Em 2014 por ocasião do centenário do Tour, foi erguida uma estátua feita por Yves Lacoste com o martelo em uma mão e o “maldito garfo” na outra.

A história ainda não acabou, o ano é 1919, 25 de julho, um ano após o final da primeira guerra mundial, o Tour de France tinha a cor desbotada de roupas velhas, o tingimento era escasso então as equipes usavam basicamente camisas cinzas. Alphonse Bauge diretor da equipe Peugeot sugeriu que o lider da corrida vestisse uma camisa colorida para que se destacasse dos demais. E assim nasceu a camisa amarela.

Em frente ao Café de L’Ascenseur de Grenoble a primeira camisa amarela foi apresentada justamente a Christophe que corria com a “La Sportive” que representava os ciclistas sem apoio de fábrica ou como dizemos hoje em dia “avulsos”, Christophe reclamou por ser chamado de canário pelos espectadores.

Ele conquistara a liderança no fim da quarta etapa sem demonstrar fraquezas, porém ao entrar em Valenciennes próxima a fronteira Belga já com 2/3 da distância da penúltima etapa … seu garfo quebrou na única parte em pavés da etapa, a descrição do diretor de prova Henri Desgrange ao jornal L’Auto mostra toda tristeza e angústia quase de forma poética:

O céu está sombrio e desbotado. Nuvens enormes e sujas se estendem até o horizonte. É como se a própria natureza estivesse sofrendo. Nos arredores de Valenciennes, Eugene Christophe fica na calçada. Ele empurra a sua frente, o selim para terra, sua bicicleta: O garfo esta quebrado. Parece uma lira poderosa cujas cordas quebradas cantam sua miséria final.

Desta vez havia uma forja dentro de um quilômetro, mas os reparos lhe custaram duas horas. O novo líder  o belga Firmin Lambot chegou a recusar vestir a camisa de líder no início da etapa seguinte, mas Christophe insistiu. Apesar da má sorte terminou o Tour em terceiro.

Duas vezes é muito certo? Pois Christophe continuou, em 1922 lutava pela vitória na geral entre os três primeiros quando na descida do Galibier… seu garfo quebrou novamente, ele terminou em décimo oitavo. Ele nunca venceu um Tour, mas foi o primeiro herói a usar a camisa amarela.

Eugene Christophe deixou o ciclismo profissional em 1926, continuou praticando pelo clube de ciclismo local, concluiu um brevet Audax de tanden (bicicleta dupla) em 1928, em 1958 na ocasião do brevet 20.000, percorreu 200km aos 73 anos. Faleceu em fevereiro de 1970 aos 85 anos de idade em Paris.

 

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