CPTM operando em mentalidade reduzida faz bloqueio na ciclovia da Marginal Pinheiros

Luiz Papillon

Nesta semana a CPTM tem promovido bloqueios na Ciclovia do Rio Pinheiros. O intuito é orientar os ciclistas acerca da velocidade máxima permitida na via que é oficialmente de 20km/h como em toda ciclovia. Ocorre que a ciclovia é usada de modo majoritário para treinamento de ciclismo competitivo, especialmente no período da manhã (até as 8h nos dias úteis e até as 9h nos feriados e finais de semana). Acidentes em alta velocidade na ciclovia não são incomuns, mas enquanto entusiastas e profissionais estamos arriscados a isso, o que não se pode é envolver terceiros que nada tem haver com os riscos que assumimos.

Divulgação da CPTM vetando treino de ciclismo competitivo

Não podemos esquecer que a ciclovia é uma via de mobilidade urbana e pessoas a utilizam para ir e vir do trabalho e especialmente nos finais de semana as famílias buscam a segurança da ciclovia para um passeio. Muitos ciclistas de diversas modalidades estendem o treino fora dos horários habituais colocando em risco pessoas que nada tem haver com o ciclismo de competição. Assim a reação da mantenedora da ciclovia foi a habitual do brasileiro: – Se não da certo proíbe.

No Brasil não importa o que você faça, sempre há um gestor para legislar e proibir alguma coisa. Já se tentou proibir o sal, o açúcar, a carne, patrulheiros ideológicos tentarão lhe proibir de pensar tanto a esquerda como a direita, enfim… proibir esta enraizado no sentimento coletivo brasileiro, possivelmente uma herança social que funciona quase como um defeito genético das gerações pós 1964. E assim o ciclismo de competição entra na mira de toda “autoridade”:

  • Se o ciclista vai para a estrada a polícia o proíbe de descer e subir uma serra.
  • Se o ciclista vai para a universidade os estudantes, funcionários se queixam ao reitor que o proíbe de treinar.
  • Se o ciclista vai para a ciclovia a companhia mantenedora da ciclovia o proíbe de treinar.
  • Se o ciclista vai para a avenida a companhia de trânsito o proíbe de treinar.

Ai chega o Tour de France e todos perguntam:

“Ué mas por quê não tem brasileiro no Tour de France?”

Área de Proteção ao Ciclismo de Competição

Pois é amigo leitor, não se brota ciclista de estrada no Tour de France sem treinamento, se em todo local que o ciclista pense em treinar ele é proibido…Ele deixa de existir. Mas não precisa ser assim e não pode ser assim. No Rio de Janeiro foi criada em 2013 a Comissão de Segurança no Ciclismo da cidade do Rio de Janeiro a CSCRJ, apenas 20 dias após a criação foi estabelecida a primeira Área de proteção ao Ciclismo de Competição a APCC. Hoje o Rio tem três áreas de treinamento:

  1. Aterro do Flamengo, 7km de extensão, Terça a Quinta das 4h as 5:30h.
  2. Circuito Cidade das Artes, 1.2km de extensão, Terças a Sexta das 5h as 8:30h
  3. Recreio, 8.8km de extensão, de segunda a quinta das 4h-5:30h.

O horário restrito não impede o treinamento fora desses horários, há apenas a definição de que aquele horário é o específico para treinamento e fora desse horário há a necessidade do respeito para com as pessoas que utilizam o local para outras finalidades.

Em São Paulo diversos locais são utilizados para treinamento e poderiam tornar-se APCC favorecendo não só o desenvolvimento de ciclistas mas também melhorando a relação entre o ciclista de competição e a cidade. Destaco alguns pontos:

  • USP, milhares de ciclistas, tri-atletas e corredores de rua já utilizam o campus do Butantã. Os períodos mais utilizados são pela manhã até as 7h e a noite das 18h em diante todos os dias. Nos finais de semana o treinamento costuma tomar todo período da manhã.
  • Ciclovia da Marginal Pinheiros, utilizada extensivamente como treinamento durante toda semana. Os horários mais cheios são durante a manhã todos os dias até as 8h.
  • Base Aérea de Guarulhos, mesmo caso da USP a Base é o único local de treino na zona leste de São Paulo e atrai centenas de ciclistas diariamente nos dois períodos, tanto até as 7h e após as 20h.
  • Estrada Velha de Santos, em São Bernardo do Campo é o ponto no ABC que reúne ciclistas em treinamento, por não ter saída a via é praticamente só utilizada para treino em ambos períodos até as 8h da manhã e após as 18h.
  • Pico do Jaraguá, no extremo de SP já próximo ao Rodoanel o Pico do Jaraguá é o playground do ciclista paulistano que escala o pico usualmente pela manhã.
  • Marginal Pinheiros e Tietê, especialmente em feriados e domingos as duas marginais são palco de treinos em pelotão entre as 7h e 8h da manhã.

Em todos esses locais já houve caso de tentativa de proibição por um ou outro gestor. Esperamos que uma mudança tanto no comportamento do ciclista como nas autoridades permita não só a continuidade dos treinamentos como também a expansão do ciclismo de estrada.

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