Anatomia da vitória: Alberto Bettiol

Ontem foi o dia mais feliz da vida de Alberto Bettiol. Após seis temporadas como ciclista profissional, finalmente veio sua primeira vitória e uma vitória mais que maiúscula. Bettiol venceu uma monumento, a Ronde Van Vlaanderen após 267km de disputa. E hoje analiso como Bettiol venceu. Se você não viu a prova, cheque o texto com os melhores momentos:

http://www.pelote.com.br/alberto-bettiol-vence-ronde-van-vlaanderen/

Mudança de postura da EF na temporada

Toda estratégia da vitória da EF não foi apenas colocada em prática ontem, ela vem desde o começo da temporada, vimos uma diferença fundamental em relação a 2018. A EF deixou de apostar na fuga, em 2018 sempre alguém saia na fuga em toda prova, e em 2019 a presença diminuiu. O próprio Alberto Bettiol fez uma excelente Tirreno Adriático chegando três vezes entre os dez primeiros colocados, uma delas no contra relógio.

Já nas clássicas a EF primeiro tentou surpreender vezes com Sebastian Langeveld até testar Bettiol na E3. Bettiol já tentara um ataque no Poggio da Milão Sanremo pois sentia-se bem, trocou a certeza de um top10 pela possibilidade de vencer. A E3 BinckBanck é conhecida como pequena Ronde, uma prévia da monumento com 75% de sua extensão. Bettiol esteve na ponta da E3 a partir dos 50km finais de prova. Isso deu números para EF saber o potencial tanto de Langeveld como de Bettiol nessas condições.

 

Lições da Deceuninck, Plano A, Plano B, Plano C…

Algumas equipes são dedicadas para um único ciclista. É o caso da Bora com Peter Sagan ou da CCC com Greg Van Avermaet, tudo é feito para que eles finalizem. A Deceuninck vem colhendo vitória atrás de vitoria com planos diversos, Vinokourov captou a essência disso e faz o mesmo em sua Astana. E a vitória de Bettiol começou com a escalação da equipe, Sep Vanmarcke, Sebastian Langeveld e Bettiol seriam o plano A, B e C. Taylor Phinney a locomotiva. E foi testando um dos planos que a estratégia funcionou, um pouco antes de Bettiol lançar o ataque vencedor, Sebastian Langeveld fez um ataque mas não conseguiu sustentar. Bastou para sua estratégia ser deixada de lado e seu trabalho agora seria preparar o terreno. Quando ele foi para perto da ponta os marcadores apenas ficaram perto e aí surgiu a brecha para Bettiol.

 

Confira o ataque sem narração:

https://web.facebook.com/rondevanvlaanderen/videos/450925908986306/

A equipe já sabia que os puncheurs bateriam seus ciclistas no sprint e os controlariam em um ataque na subida. Estavam ali a nata dos puncheurs com Valverde, Matthews e Sagan, três campeões mundiais! Então Bettiol lançou um mini ataque, separou-se do pelote por cerca de 40 metros mas assim que fez a curva em direção a Kwaremont…Bettiol começou a subir, lançou um ataque com pico de 1300w (dados da Velon). Quando o pelote fez a curva e esperava Bettiol 30m a frente ele já estava 200m escapado. O ataque funcionara, agora vinha a batalha entre o físico e a mente.

Bettiol com 250km nas pernas e após dar um ataque monstruoso precisava encontrar forças para se manter a frente por 14km. O diretor esportivo da EF, Andreas Klier foi fundamental gritando no ouvido do ciclista para ele continuar puxando.

Todos contra todos, sem sacrifício não há perseguição

O ciclismo é um esporte coletivo de resultado individual. Assim para vencer é preciso um enorme esforço da equipe. O grupo de perseguição a Bettiol não tinha esse espírito, além das pernas cansadas havia a questão do ego! Qualquer um que se sacrificasse para buscar Bettiol estaria sedimentando a vitória de um dos grandes puncheurs que citei no começo desse texto. Contra Sagan, Matthews, Kristoff ou Valverde é preciso muita potência e nesse grupo ninguém iria se doar pelo adversário. Vinokourov e Armstrong chegaram a ser investigados por em momentos assim oferecer dinheiro para alguém partir para o sacrifício, porém nos tempos atuais isso é muito mais complicado e egos valem mais do que dinheiro puramente.

Peter Sagan ainda tentou liderar uma perseguição na subida do Patemberg cerca de 10km do final, talvez isso tenha minado suas chances no sprint. Porém a tentativa foi em vão já que os demais não colocaram a cara no vento e assim Alberto Bettiol chegou a sua primeira vitória profissional. Se essa vitória vai entrar ou não para o hall das zebras no ciclismo dependerá da sequência da carreira do italiano. Torcemos para que ele continue a vencer.

http://www.pelote.com.br/zebras-adoraveis-nas-classicas/

 

One thought on “Anatomia da vitória: Alberto Bettiol

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Next Post

25 anos da vitória da Caloi na Paris Roubaix

Neste domingo acontece a Paris-Roubaix, terceira monumento da temporada, e comemoramos também os 25 anos da vitória da Caloi na Paris Roubaix. Muitos conhecem a história da Caloi Motorola entre 1995 e 1996 mas a história da Caloi no ciclismo profissional começou dois anos antes pela Lotto que hoje chama-se […]

Receba as novidades em seu e-mail