A pandemia e o necessário fim das modelos de pódio do Tour de France!

Luiz Papillon

Nos últimos 50 anos o Tour de France assimilou uma tradição herdada do automobilismo. Lindas modelos desferindo beijinhos no vencedor da etapa, a pandemia acelerou o fim dessa tradição.

Nova cerimônia de pódio no Tour de France 2020

A organizadora do Tour de France, a Amaury Sports Organization ou A.S.O. modificou o processo de cerimônia de premiação. As modelos saem de cena e o ciclismo abandona o modelo copiado do automobilismo nos anos 60. Agora embaixadores, jovens esportistas farão o cerimonial, sem sexismo.

“Agora as coisas serão diferentes, usando apenas um representante local e um assistente para vestir a camisa de vencedor no ciclista.” disse Christian Prudhomme, diretor de prova do Tour de France.

O novo, nesse caso imita o velho, afinal antes do Tour de France copiar o endinheirado automobilismo, as cerimônias eram bem mais simples. Um representante da cidade, outro do patrocinador entregando algum brinde e estava feita a cerimônia. A cerimônia com modelos no pódio veio com o advento da propaganda, nos anos 60, tudo copiado do automobilismo que estigmatizou a mulher como objeto. No início eram misses que subiam ao pódio e depois foram paulatinamente substituídas por modelos profissionais que passaram a fazer parte da caravana do ciclismo.

Fausto Coppi recebe um panetone de prêmio no Giro de 1940 | Gazzetta Dello Sport

Tour Down under 2017 foi a primeira prova sem modelos no pódio.

A mudança efetuada pelos organizadores do Tour Down Under na Austrália veio com um empurrão governamental. O governo da região Sul da Austrália, retirou o suporte financeiro aos eventos que utilizassem modelos no pódio.

“As modelos no pódio entregando os prêmios são uma tradição velha, é como tratar as mulheres como objetos, as desvalorizando” disse o basco Mikel Landa.

No mesmo ano, provas espanholas como a Volta a Catalunha, o Challenge de Mallorca alteraram as cerimônia de pódio. A própria Vuelta de 2017, também organizada pela A.S.O. substituiu as modelos por jovens, crianças, e promotores vestidos de forma simples e esportiva. Na Vuelta 2017, o responsável por fechar a camisa dos ciclistas foi Oscar Pereiro, ciclista vencedor do Tour de France que tornou-se embaixador da prova.

Aliás usar embaixadores no pódio não é assim uma novidade, e também não elimina problemas. Bernard Hinault, pentacampeão do Tour de France embaixador da prova francesa. Por duas vezes Hinault foi as vias de fato para retirar invasores do pódio.

Hinault empurra invasor de Pódio | Foto Bettini

Flanders Classics foi a primeira organizadora a eliminar a modelo no pódio

Organizadora de clássicas como a De Ronde van Vlaanderen (Volta à Flandres), a Flanders Classics foi a primeira a eliminar o beijinho do pódio por ideologia. Tudo começou com a atitude de Peter Sagan, então na Cannondale que apertou o traseiro da modelo Maja Leye no pódio da Ronde de 2013. Sagan se desculpou mas o estrago estava feito. Desculpas aceitas, mas o fato não foi esquecido.

Pódio da Brabantse Pijl 2019, Maja Leye a direita como mestre de cerimônia – Foto Photonews

O caso seguiu repercutindo a cada edição das provas organizadas pela Flanders Classics, até que em 2018 a Flanders Classics optou por alterar a cerimônia de pódio. Agora diretora da Flanders Classics, a mesma Maja Leye foi mestre de cerimônia na Omloop Het Nieuwsblad, onde fez a introdução dos convidados e vencedores ao pódio. Desde então todas as demais provas realizadas pela Flanders Classcis passaram a ter uma cerimônia de pódio sem sexismo.

Assim o ciclismo desde 2017 tem dezenas de provas sem modelos ou beijinho no pódio e você nem percebeu né? Melhor assim, vamos dar o foco as verdadeiras estrelas da prova, os ciclistas e as cidades que recebem cada uma das 21 chegadas.

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