Ídolo francês Raymond Poulidor faleceu aos 83 anos

Detentor de 189 vitórias, oito pódios no Tour de France, campeão na Vuelta a Espanha e vencedor da Milan Sanremo, Raymond Poulidor faleceu nesta manhã em Saint Léonard de Noblat na região da Nova Aquitânia na França. Poulidor estava internado desde o começo de outubro.

Conhecido por “Eterno Segundo”, Raymond Poulidor nunca vestiu a camisa amarela no Tour de France, em seus 18 anos de carreira Poupou venceu sete etapas da mítica prova francesa conquistando três vice campeonatos. Se pudesse fazer um paralelo com um brasileiro, a referência para Poulidor seria Rubens Barrichello. Extremamente popular, admirado mais do que outros campeões em sua modalidade, Poulidor cativou a França e o mundo do ciclismo.

Raymond Poulidor da infância pobre ao ícone da Mercier

Poulidor nasceu em um pequeno vilarejo chamado Masbraud-Mérignat que desde o início do ano foi incorporado ao município vizinho. Ainda jovem começou a trabalhar no sítio de sua família abandonando a escola aos 14 anos de idade. Com uma bicicleta dada pelo dono da bicicletaria local, Poulidor iniciou a carreira vencendo provas locais. Enviado para Argélia durante o serviço militar obrigatório, Poulidor só voltou a ter contato com o ciclismo aos 24 anos. Seu primeiro prêmio foi um segundo lugar que lhe rendeu 80.000 francos, montante superior ao total que ele havia recebido em seis anos no sítio. O caipira sofria bullying dos colegas a cada prêmio: “Ei Pouli, você pode comprar outra vaca”

“Nenhuma corrida, o mais difícil que seja é tão longa como uma colheita”

No final da temporada de 1959 Antoine Magne, diretor da equipe Mercier contratou Poulidor e o sonho começou. Em 1961 o pequeno francês de 1,73m venceu a Milão Sanremo e em seguida iniciaria uma das mais célebres rivalidades do ciclismo. Jacques Anquetil, apenas dois anos mais velho que Poulidor tinha grande experiência correndo desde 1953 e rivalizou por toda década de 60. Apesar de Anquetil vencer o Tour, o caipira Poulidor caiu na graça do público a ponto de estudos sociológicos se basearem na popularidade de Poulidor.

“Quanto mais azar eu tinha, mais o público me adorava e mais dinheiro eu ganhava”

Icônica imagem de Anquetil e Poulidor no Puy-de-Dôme em 1964

Após Anquetil, seria a vez de Poulidor? Mas havia um belga no caminho

Ao final da “era Anquetil” chegava a hora e a vez de Poulidor vencer finalmente o Tour de France. Porém um jovem belga despontava vencendo tudo que disputava: Eddy Merckx. O resultado o leitor já sabe, Merckx venceu por cinco vezes o Tour de France, Poulidor nesse período conquistou três terceiros lugares e um vice campeonato. Poulidor encerrou a carreira em 1977, foi diretor do Tour du Limousin de 2001 a 2010. Em 2004 seu livro de memórias foi publicado com prefácio de Eddy Merckx.

Poulidor e Eddy Merckx

Doping e pombos

Poulidor também foi o primeiro ciclista da história a fazer o exame antidoping em 1966. Sua indiferença quanto ao controle de dopagem cativou alguns inimigos no pelotão já que os ciclistas sentiram-se desrespeitados com a metodologia do exame. Em seus quase 20 anos como profissional Poulidor jamais esteve sob suspeita de doping, porém em 2016 sem notar que a câmera de Elise Lucet estava ligada, Poulidor dá detalhes de ter utilizado anfetaminas:

“Foram anfetaminas. Diziam que o pessoal usava um ou dois Maxiton (anfetamina), era isso. Não tinha nada a ver com os dias de hoje, era para segurar, para dar moral .”

Esse fato trás outro caso de doping, com uma das desculpas mais esfarrapadas da história. A filha de Poulidor, Corinne casou com o campeão mundial de ciclocross e vencedor da Ronde Van Vlaanderen Adrie Van der Poel. Em 1983 Van der Poel testou positivo para estricnina, e ai veio a desculpa que envolve seu sogro, justamente Poulidor:

“Meu sogro serviu uma torta de pombos no domingo e quando soube que testei positivo tive a certeza que os pombos estavam dopados com estricnina”

Obviamente ninguém acreditou na estória e Adrie foi suspenso, mas a desculpa entrou para os anais entre as mais absurdas já ditas.

A terceira geração: David e Mathieu Van der Poel

Filhos de Corinne e Adrie, David Van der Poel e Mathieu Van der Poel também são ciclistas. Mathieu é provavelmente o maior fenômeno no ciclismo nos últimos anos tendo conquistado dois títulos mundiais de ciclocross. Nesta temporada, Mathieu venceu a  Volta da Grã Bretanha e três clássicas: Amstel Gold Race, Dwars door Vlaanderen e Brabantse Pijl. Sobre o neto Poulidor declarou:

“Ele é terrível, extraordinário, fora do comum. Ele é mais forte que o avô e que o pai também”

Poulidor e Mathieu Van der Poel | AFP

 

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